O Colapso do Globalismo Rentista e a Nova Luta por Soberania Econômica

O modelo neoliberal-globalista que dominou o mundo desde Bretton Woods chegou ao seu limite histórico. O que presenciamos hoje não é um acidente econômico isolado, mas a falência de um sistema que separou a economia da sociedade, deslocando o centro da riqueza produtiva para um rentismo financeiro concentrado em poucas mãos. A financeirização da vida cotidiana, a destruição das bases produtivas e a dependência geopolítica são as marcas do colapso de uma arquitetura criada para servir elites, e não nações.

Nos Estados Unidos a crise é explícita: um Estado com dívida pública superior a todo seu PIB, uma classe média estrangulada pelo crédito fácil e uma indústria corroída pela terceirização. A agenda de tarifas adotada por Donald Trump, muito além de uma estratégia econômica, é um movimento existencial de reconstrução soberana. Trata-se de reconectar a nação à sua base produtiva, romper a dependência financeira e restaurar a soberania interna diante de um sistema global desenhado para os tornar países reféns do modelo. As tarifas também operam como instrumento de desvalorização cambial, enfrentando artificialismos que, por décadas, sustentaram superávits asiáticos às custas da indústria americana.

O Brasil é um espelho agravado dessa crise. Nas últimas três décadas, seguindo a cartilha liberal, o país promoveu uma abertura econômica desindustrializante, vendida como “modernização”. Assim, a nossa elite financeira consolidou o seu domínio: bancos como Itaú, Bradesco e BTG se tornaram centros de poder que moldam a política pública conforme seus interesses. A financeirização da pobreza — via consignados, crédito rotativo e monetização do INSS — tornou-se uma política de Estado. 

Paralelamente, a imposição da agenda ESG–woke, patrocinada por organismos internacionais, atua como uma ferramenta de paralisia interna –  trava o agro, corrói os valores sociais e enfraquece a identidade nacional.

Assim como os Estados Unidos buscam se reindustrializar e recuperar sua autonomia produtiva, o Brasil também enfrenta a necessidade histórica de uma revolução soberanista. A multipolaridade emergente — impulsionada pela ruptura do modelo liberal — oferece oportunidades inéditas para os países que souberem se libertar do sistema de rentismo financeiro e construir redes econômicas e produtivas próprias. No entanto, isso exige coragem política, abandono da mentalidade de submissão e a construção de uma cultura estratégica nacional.

O que está em jogo não é apenas uma disputa comercial. É uma batalha civilizacional. A crise que vivemos é o colapso de uma ordem moral e econômica baseada na financeirização e na fragmentação social. Superá-la implica recuperar não apenas a produção e a tecnologia, mas também os fundamentos civilizacionais que sustentam a liberdade — parâmetros que o Ocidente, ao se render ao relativismo cultural e à engenharia social, abandonou. A China, embora retratada como antagonista, também foi uma das maiores beneficiárias do sistema liberal. Hoje, paradoxalmente, precisa deste mesmo sistema para sustentar sua estabilidade econômica, seu superávit e seu projeto geopolítico.

Para o Brasil, a reconstrução não será técnica; será política, cultural e espiritual. Enquanto nossas elites financeiras se agarram ao modelo globalista falido, a história exige novos caminhos. É a soberania ou a dissolução. E, como mostra a realidade americana, a reconstrução começa por um gesto claro: romper com a dependência externa, restaurar o crédito produtivo interno e reafirmar a autoridade da nação sobre sua própria economia.

O tempo do rentismo globalista se esgotou. O que vem a seguir depende da capacidade dos povos — inclusive do brasileiro — de enxergar a oportunidade no meio do colapso e de reconstruir suas bases antes que sejam definitivamente apagados.

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