O atravessador corporativo da economia nacional

Caronte é uma figura da mitologia grega registrada como o barqueiro responsável por transportar as almas dos mortos através dos rios Aqueronte e Estige até o Hades, o domínio dos mortos. As fontes históricas indicam que ele era filho de Érebo, a escuridão primordial, e Nix, a deusa da noite, ambos pertencentes à geração inicial de divindades gregas. Sua tarefa consistia em conduzir as almas em um barco, exigindo como pagamento uma moeda, geralmente um óbolo ou dânaca, que os gregos colocavam na boca dos falecidos durante os ritos funerários. Esse costume é evidenciado por achados arqueológicos em sepulturas gregas datadas de períodos antigos. Caso o pagamento não fosse oferecido, as almas não eram transportadas e permaneciam nas margens dos rios por um período de cem anos, conforme descrito nas tradições gregas.

Não há registros de que Caronte fosse objeto de culto religioso ou adoração direta na Grécia antiga, mas ele é mencionado em textos literários e representado em artefatos artísticos, uma entidade discreta e sem culto público segundo os registros disponíveis.


Nos tempos atuais, o atravessador que entrega a liberdade e os bens públicos para uma elite oligárquica não tem um mito que possa descrevê-lo. Não se trata simplesmente de privatizações ou venda de ativos públicos para entidades privadas, mas da entrega de instituições, do processo de produção de políticas públicas, de setores produtivos inteiros e também de ativos públicos estratégicos.

A corporatocracia é um regime onde o poder público atua como um Caronte das grandes corporações internacionais, um atravessador que, uma vez pago, torna-se o intermediário entre a agenda das grandes corporações e a população.

Observou-se isto com as vacinas produzidas por grandes corporações durante a crise sanitária de 2020. Observa-se essa mesma dinâmica com as Bets, o empréstimo consignado ao trabalhador — que entregou para os bancos um mercado de bilhões e acabará produzindo milhares de endividados por essa modalidade de crédito — e até com o agronegócio, que está enfrentando uma tempestade econômica causada pelo governo.

Agora, é possível observar o atravessador entregando o controle do território nacional, desde a Amazônia até terras agrícolas, aeroportos e infraestrutura de transmissão de dados e energia.

Enquanto o Estado é instrumentalizado como um atravessador para as grandes corporações, o povo segue sendo massacrado, justamente para que não haja possibilidade de reação e retomada das instituições.

Quem acredita que o consenso de Washington, o multilateralismo,  a globalização e a burocratização da política trouxeram benefícios para os cidadãos, precisa entender o quanto fica mais simples operar e administrar a economia através de uma ditadura.

A previsibilidade e impossibilidade de revolta popular que as ditaduras proporcionam são o sonho colorido da elite corporativa, elite esta que construiu em conjunto com o PCCh a tecnocracia chinesa.

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