Todo mundo é extremista?

Por Daniel Galli

15/11/2024

Se perguntarmos a um membro da elite burocrática brasileira qual é o principal problema do país, dificilmente ouviremos respostas relacionadas a saneamento, infraestrutura ou economia. O mais provável é que mencionem questões como educação, extremismo e violência. Para eles, a educação serve para “corrigir” o povo que “se comporta mal”, o extremismo deve ser eliminado porque, segundo essa visão, é o que gera violência. Curiosamente, a violência mencionada nunca é a dos narcoterroristas ou das facções criminosas.


Boa parte da chamada classe falante — composta por jornalistas, intelectuais, políticos e outras figuras que ocupam posições em instituições influentes — parece viver em um mundo paralelo, desconectado do cidadão comum. Nesse mundo, o extremismo é visto como um problema maior do que a falta de saneamento básico ou o desemprego. Para eles, o que impede o progresso não é a ausência de infraestrutura ou oportunidades, mas sim os valores conservadores de figuras como a dona Maria, que considera roupas curtas inapropriadas, ou a dona Cleide, que possui convicções sexuais vistas como antiquadas.


Nessa visão, salvar o “mundo progressista” exige duas soluções: doutrinar ou silenciar essas pessoas. Oferecer saneamento básico, empregos ou conforto material não é suficiente para inseri-las na “sociedade aberta”. Afinal, segundo essa lógica, o problema está nos valores delas, e não nas condições em que vivem.


A dona Maria, apesar de rotulada como extremista, é inofensiva: não tem poder para influenciar debates públicos ou moldar políticas. Já os políticos, escritores e jornalistas com visões conservadoras são considerados intoleráveis. Na mídia brasileira, tornou-se prática comum rotular como “extremista de direita” qualquer pessoa que se oponha a temas como aborto, eutanásia, censura ou desarmamento civil. Esse rótulo, em última instância, serve para excluir essas pessoas do debate público.


O problema é que, no Brasil, a maioria da população se opõe a essas pautas progressistas: rejeita o aborto, a eutanásia, a censura e, na sua maioria, é favorável ao armamento civil. Em contrapartida, a elite que decide o que é ou não aceitável — formada por jornalistas, intelectuais, ativistas, empresários e políticos — não representa sequer 1% da população. Contudo, essa minoria utiliza recursos financeiros, ativismo e propaganda para marginalizar a maioria, sob o pretexto de “educá-la” para valores como igualdade, direitos humanos e não discriminação.


Essa minoria é bem organizada, mobiliza recursos, ocupa posições estratégicas e age constantemente. A maioria, por outro lado, está desorganizada e dispersa, assistindo passivamente, sem saber como reagir. A elite progressista, intolerante a qualquer oposição, disfarça suas intenções sob o manto da democracia e dos direitos humanos, enquanto avança uma estratégia de longo prazo, planejada há mais de um século e financiada por grandes fortunas.


Esse projeto de “sociedade aberta”, descrito por pensadores como H.G. Wells, Aldous Huxley e Yuval Noah Harari, é amplamente documentado e promovido por instituições oficiais e acadêmicas. Ainda assim, qualquer crítica a ele é ridicularizada como “teoria da conspiração”, com o objetivo de descredibilizar seus opositores.


Além disso, essa elite progressista não hesita em falsificar estatísticas, omitir fatos, silenciar opiniões contrárias por meio de intimidação e adotar o papel de vítima quando contestada. Entretanto, o extremismo, segundo eles, está nas mãos da dona Maria — uma mulher comum que construiu seus valores a partir de suas experiências de vida e da fé que cultiva. Já a elite, por sua vez, se autoproclama democrática, tolerante e aberta ao contraditório — desde que esse contraditório esteja alinhado aos seus próprios valores.

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