Chegamos ao ano de 2025 e, de maneira brutal, descobrimos o “preço” de uma vida humana: R$ 500. Sim, quinhentos reais. O valor de um celular parcelado, de uma conta de luz atrasada, da dívida com um agiota. É o preço de um bebê, entregue pela própria mãe em um ato de desespero abissal. E, do outro lado, um casal que, buscando um “sonho”, o leva como se fosse uma mercadoria. A pergunta não é mais sobre quem está certo ou errado – pois todos estão fortemente errados. A questão que nos assombra é: como chegamos a esse abismo?
A mãe que vendeu seu filho estava endividada com um agiota. Antes de qualquer julgamento moral, precisamos olhar com honestidade para a realidade brasileira: quantas mães hoje vivem reféns da miséria, da fome e da violência silenciosa da pobreza? Quantas enfrentam a maternidade como um campo de batalha sem abrigo, sem rede de apoio, sem esperança? Este caso não é um incidente isolado; é um diagnóstico cruel da nossa falência coletiva, onde o valor de um bebê pode ser reduzido a uma dívida irrisória. Não é apenas uma questão econômica; é a financeirização da miséria, que transforma cada corpo, cada relação, cada decisão humana em um valor negociável, em um item em um leilão macabro de existências.
E o casal que “comprou” o bebê? A justificativa: “queriam formar uma família”. Mas o que significa formar uma família em um mundo onde a noção de pertencimento foi substituída por transações emocionais? Como se constroem laços quando a origem do afeto é mediada por transferências bancárias, por dívidas, por arranjos desesperados, completamente fora de qualquer estrutura social e legal saudável? Não se trata de orientação sexual, posto que o casal que negociou a criança era homosexual. Trata-se de um vazio simbólico, de uma alienação emocional profunda e de uma total desconexão com o senso de responsabilidade civilizacional. Este é o ápice da desumanização silenciosa: a vida de um bebê se torna um projeto de realização pessoal, independente do custo, de quem é ferido, do que é quebrado.
Este caso revoltante não surgiu do nada. Ele é o fruto maduro de uma sociedade que, há muito tempo, vem normalizando o que deveria ser inaceitável. Onde mães são julgadas, mas não amparadas. Onde o mercado, e não a dignidade humana, decide o que uma vida vale. Onde influenciadores digitais choram em vídeos por seus animais de estimação, mas se calam diante de bebês vendidos como objetos. Onde a “inclusão” se tornou uma caricatura narcisista, e ninguém mais se pergunta se está emocionalmente ou socialmente apto para criar um ser humano.
O que essa história nos mostra, acima de tudo, é que sem moralidade e sem a mínima noção de limite, a sociedade se transforma em um bazar de almas baratas. A vida humana não pode ser tratada como uma transação bancária. Se permitirmos isso, já estamos todos vendidos – e nem sabemos por quanto.
Até quando vamos fingir que a crise é apenas financeira, e não moral, simbólica e civilizacional?