O centrão e a direita na era das ideologias

Publicado em 17 de Dezembro de 2025

“Se a regra que você seguiu o trouxe até aqui, de que serve essa regra?” é a pergunta que Anton Chigurh, no incrível livro Onde os Velhos Não Têm Vez, de Cormac McCarthy, faz no auge do seu realismo, segundos antes de atirar. Uma ideia simples, mas tão poderosa, que deveria estar estampada, como um memento mori, nos escritórios da Faria Lima e nos gabinetes do Centrão. A elite política e econômica brasileira seguiu, por décadas, suas regras de etiqueta institucional, moderação tecnocrática e fé cega no liberalismo globalista – e para onde essas regras nos trouxeram? Para a beira de um abismo político e civilizacional, onde a esquerda se tornou hegemônica e voraz no consumo das riquezas nacionais. A insistência em candidatos de consenso domesticados prova que o establishment se recusa a aceitar o óbvio: o mundo mudou, as regras antigas morreram.

Enquanto banqueiros e articuladores políticos buscam uma “terceira via” presa aos manuais dos anos 90, o planeta observa a morte anunciada do sistema liberal. A vitória de José Antonio Kast no Chile é a confirmação de que a América Latina está acordando para a necessidade de ordem, autoridade e defesa intransigente dos valores ocidentais. Kast, assim como Milei, venceu afirmando uma identidade clara de nacionalismo conservador, não pedindo licença ao centro. O governo americano, com a divulgação da sua ‘Doutrina Monroe 2.0’, deixou claro que o Ocidente é território prioritário e que as influências chinesa e russa serão combatidas. A era do globalismo acabou e, agora, ou se fortalece internamente, ou se vira presa fácil para aqueles que o fizeram.

A cegueira da Faria Lima é ainda mais constrangedora quando contrastada com a lucidez de seus pares ao redor do planeta. O JP Morgan e o mercado financeiro americano já entenderam o novo zeitgeist, abandonaram as ilusões do livre mercado sem fronteiras e anunciaram financiar o “America First”, injetando trilhões na reindustrialização e na defesa nacional, percebendo que, no século XXI, a segurança geopolítica vai preceder o lucro. Na Ásia e na Europa, o movimento é idêntico, com o dinheiro seguindo a soberania. Mas no Brasil o mercado financeiro insiste em apostar contra o próprio destino, sonhando com gestores que tratam o país como uma grande empresa auditada, e não como uma nação a ser defendida.

É neste cenário que a indicação de Flávio Bolsonaro surge não apenas como uma manobra legítima de Jair Bolsonaro, mas como um imperativo de sobrevivência geopolítica. Flávio carrega o DNA político necessário para conectar o Brasil a esse novo eixo de poder conservador que se desenha ao redor do planeta. Ele não é o candidato do “talvez”, não é um gestor que o Centrão deseja para manter seu feudo; ele representa a continuidade de um projeto que entende a linguagem da direita global, de um nacionalismo propositivo, de uma pauta de costumes clara e de alinhamento estratégico com o Ocidente.

As críticas vêm porque têm de vir, mas o motivo delas diz mais que as palavras. Criticar a escolha de Flávio Bolsonaro é incorrer no erro da frase de Anton Chigurh. Lutar para manter as regras de “civilidade” e “composição” do passado, que serviram apenas para pavimentar o caminho da esquerda e enfraquecer o caráter nacional, é loucura. Se quisermos resultados diferentes, se quisermos um Brasil soberano, integrado às cadeias de valor das democracias ocidentais e livre das influências perniciosas que desejam manter o país pobre eternamente, precisamos abandonar as regras que falharam. A candidatura da direita precisa ter clara a ideia que, em um mundo de lobos, não se envia ovelhas para negociar, por mais bem-vestidas que elas estejam. O Brasil precisa de força, e a hora da moderação já passou.

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