
Publicado em 21 de Novembro de 2025
Para compreender a política, é necessário entender quem está no comando, quais grupos, pessoas ou instituições estão promovendo uma determinada agenda.
Para que um determinado grupo esteja no comando, é necessário que sua autoridade ou meios de coerção sejam respeitados e temidos; sua capacidade de sancionar precisa ser maior do que a capacidade dos comandados de se evadirem.
Para compreender essa dinâmica, é preciso entender o conceito de poder, seu exercício e sua natureza.
Poder é, ao mesmo tempo, a capacidade de fazer com que outros obedeçam e a aptidão de produzir efeitos desejados no mundo; ele se manifesta quando uma vontade consegue transformar intenções em resultados e, para isso, combina instrumentos diferentes: a coerção que intimida e sanciona, os incentivos materiais que abrem ou fecham caminhos econômicos e a formação de crenças que molda o que as pessoas consideram legítimo, verdadeiro e desejável. Há um “poder sobre”, que submete pessoas, e um “poder para”, que habilita a realização de fins; regimes duradouros nascem quando esses dois planos se entrelaçam e quando os tipos de poder — coercitivo, econômico e ideológico — se reforçam mutuamente.
A diferença entre autoridade e poder importa: autoridade é reconhecimento, adesão voluntária; poder é comando efetivo, que pode dispensar o reconhecimento e a legitimidade. Os romanos diferenciavam o auctoritas de potestas, o poder oficial da influência real.
Potestas define os poderes formais e estabelecidos de forma oficial, como o exercido por magistrados e cônsules.
Mas o Senado é detentor das auctoritas, ou seja, a influência real dos conselheiros e guardiões da tradição na república.
Hoje, essas distinções são mais opacas, obscuras — justamente porque os poderes oficiais tentam evocar toda a legitimidade sobre a ordem social, colocando-se acima da família, da igreja e das demais lideranças —, e é preciso reconhecer que, atualmente, predomina o exercício bruto e impessoal do poder.
Quando se compreende que o poder molda a ordem política nacional e é o fator determinante na vitória ou derrota no embate da tensão política, o conflito nos parlamentos, órgãos multilaterais etc., passa a ser visto com outros olhos.
Se a pergunta for sobre quem, no Brasil, tem a capacidade de ser imediatamente obedecido, é impossível que o narcotráfico não surja como resposta.
Ameaças de execução, poderio bélico superior ao de pequenos Estados da América Latina e lucros exorbitantes fazem das organizações narcoterroristas um dos grupos com maior capacidade de obter obediência em todas as camadas sociais do país.
Ao analisar a vizinha Venezuela e observar como o regime sustenta a obediência do povo e mantém seu arranjo institucional em pé, nota-se a ausência de um conceito que nomeie essa forma de exercer o poder.
A Venezuela sustenta seu regime apoiada em milícias de narcoterroristas e obtém a obediência pela opressão que esses terroristas exercem sobre a população, ainda contando com essas milícias para vigiar suas fronteiras.
Já não se trata de um Estado constitucional, autônomo e com exército regular. A Venezuela — assim como várias regiões brasileiras dominadas por facções — vive um regime de exceção, em que o poder é diluído pelas armas de narcoterroristas, mas paradoxalmente centralizado na figura de um ditador que mantém o controle desses grupos.
O que sustenta o regime venezuelano e cria núcleos paralelos no Brasil, não poderia ser considerado um poder extraoficial organizado conforme os interesses dos narcoterroristas? Não seria possível chamar tal fenômeno de um “narcopoder”?