Um traço marcante da política externa dos EUA nos últimos cinquenta anos, quando era a grande força política na arena internacional, foi a conformidade e cumplicidade do Estado americano com instituições multilaterais, corporações e megabilionários.

Com o passar dos anos, ONGs, instituições multilaterais e corporações passaram a integrar o Estado americano, não apenas colaborando, mas também harmonizando os interesses desses agentes. Até que, durante o governo Bush, os serviços de inteligência foram praticamente terceirizados.

A prometida “drenagem do pântano” de Donald Trump agora atinge a USAID, expondo detalhes desse segredo amplamente conhecido: o uso da estrutura de assistência humanitária e de “apoio às democracias” como ferramentas de intervenção e guerra não convencional contra países-alvo do establishment anglo-americano.

Uma das medidas executivas assinadas por Trump logo no início de seu governo determinava a suspensão por noventa dias de todas as operações de ajuda externa, com o objetivo de reavaliar e ajustar suas diretrizes. Poucos dias depois, em uma crítica direta, Elon Musk, chefe do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), declarou que a agência é um “antro de corrupção” e deveria ser encerrada. Trump complementou, afirmando que a organização era controlada por “um grupo de insanos”. Atualmente a agência encontra-se com suas atividades praticamente interrompidas, enquanto os novos líderes políticos em Washington decidem seu futuro.

Simultaneamente, o mundo tomou conhecimento do que já era evidente para quem não acreditava na mídia tradicional e em seus intelectuais públicos.

Ao lado da Fundação Nacional para a Democracia (NED) e dos Institutos Sociedade Aberta, vinculados ao megainvestidor George Soros, a USAID tem sido uma peça central na política intervencionista dos Estados Unidos nas últimas décadas, promovendo “revoluções coloridas” e financiando organizações não governamentais (ONGs) em diversas áreas de interesse dessa agenda, tais como meio ambiente, direitos humanos, capacitação pró-democracia, entre outras.

No Brasil, onde atua desde 1962, a USAID tornou-se, a partir da década de 1990, uma das principais patrocinadoras da agenda ambiental e indígena, mantendo programas ativos de capacitação de “especialistas em meio ambiente”. Muitos dos atuais líderes do movimento ambientalista e indigenista no país passaram pelo seu programa de “formação de lideranças ambientais”. Em média, os recursos destinados à área ambiental passaram a representar cerca de 50% do orçamento da agência no Brasil.

Em 2005, a USAID lançou a ambiciosa Iniciativa para Conservação da Bacia Amazônica (ABCI), que tinha como meta ocupar áreas estratégicas da Amazônia por meio da coordenação de ações de diversas ONGs ambientalistas e indigenistas em países como Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Guiana e Guiana Francesa. O objetivo era estabelecer uma “barreira verde” de áreas protegidas para restringir atividades econômicas em uma vasta região do bioma amazônico.

Já é impossível ignorar o fato de que as ONGs financiadas pela USAID estavam a serviço de interesses corporativos da oligarquia anglo-americana, que visavam dominar a região amazônica para extrair recursos naturais — com ou sem autorização, de preferência sem —, o que justifica o árduo trabalho de ONGs e instituições multilaterais para manter a região subdesenvolvida.

Até quando vamos ignorar a sabotagem contra o desenvolvimento e a integração da Amazônia com o restante do Brasil?

Não, não era sobre meio ambiente. Nunca foi.

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