O Brasil talvez tenha sido o único país de peso no G20 que, desde a posse de Donald Trump, não buscou uma negociação bilateral minimamente eficaz com os Estados Unidos. Esse não é um detalhe técnico nem uma hesitação pontual. É um erro de cálculo estratégico da diplomacia brasileira — e que começa a cobrar um preço objetivo.
Enquanto isso, outras economias agiram. O México, governado por um projeto de esquerda, entendeu que preservar cadeias produtivas exigia mais do que discurso. Abriu conversas com Washington, buscou caminhos diplomáticos e sinalizou prontamente sua disposição em negociar. A China, mesmo diante de disputas estruturais com os americanos, manteve canais abertos com o Tesouro dos EUA, com o Departamento de Comércio e com a própria Casa Branca. Em ambos os casos, o princípio foi simples: defender os interesses nacionais exige interlocução direta — independentemente do ambiente político.
O Brasil seguiu na direção oposta. Não fez contato, não propôs alternativas, tampouco tentou se antecipar à decisão americana. Em vez disso, preferiu manter uma postura passiva, talvez esperando que o discurso de pertencimento aos BRICS ou a retórica sobre uma nova ordem global fossem suficientes para garantir algum tipo de proteção geoeconômica. Não foram.
As tarifas não surgiram do nada. Vieram após meses de sinalizações públicas, debates internos no Congresso americano e mobilização do setor produtivo dos EUA. A escalada foi previsível, e a reação brasileira — ou a ausência dela — está registrada. O país teve tempo, teve margem e teve acesso às mesmas informações que os demais. O que faltou foi disposição para agir.
Nesse contexto, negociar não é sinônimo de submissão. É exatamente o oposto: é reconhecer os limites do jogo, atuar com seriedade e buscar o melhor resultado possível dentro das condições existentes. O Brasil não fez isso. E agora paga o preço por ter se ausentado da mesa.
A dúvida que resta é se a Faria Lima será capaz de analisar os fatos como eles são ou se seguirá acomodada entre a retórica do governo e a narrativa da imprensa. Ignorar a omissão diplomática brasileira nesse episódio pode até ser conveniente para alguns. Mas ela continua lá — como causa central de um problema que o mercado insiste em tratar como inevitável.