O Brasil e sua guerra civil cultural

Publicado em 23 de Dezembro de 2025

Houve um tempo em que um par de chinelos de borracha era apenas isso: um calçado simples, símbolo da simplicidade do brasileiro médio. O uniforme do domingo, do churrasco, do lazer. Mas a polêmica das Havaianas trouxe até um chinelo para o centro de um movimento que vitimiza a sociedade brasileira: a morte da neutralidade.

A peça publicitária, com o seu jogo de palavras hostil sobre “não começar com o pé direito”, não foi desenhada para vender sandálias – isso é claro para qualquer um – mas para sinalizar virtude a uma elite cultural e, ao mesmo tempo, desferir um tapa na face da maioria demográfica do país. Não é apenas a “lacração”, mas a captura total das instituições, do entretenimento ao corporativismo, por uma casta que despreza profundamente os valores, a fé e a visão de mundo do brasileiro comum.

O Brasil vive uma dissonância cognitiva brutal. De um lado, o “Brasil real”: uma nação historicamente conservadora, cristã, apegada à ordem e à família, que constitui a esmagadora maioria da população. Do outro, o “Brasil oficial”:  instituições formadoras de opinião, universidades, redações de jornais, agências de publicidade e os órgãos infiltrados pela ideologia.

A grande tragédia do nosso tempo é que o “Brasil oficial” declarou guerra ao “real”.

As instituições nacionais não apenas discordam do conservador; elas o demonizam. O desejo de segurança pública vira “fascismo”, a defesa da família vira “fobia”, o patriotismo é criminalizado como “extremismo”. Ao colocar os valores históricos da nação como doenças sociais, a elite burocrática e cultural justifica a exclusão do cidadão conservador da vida pública. Ele não é mais um interlocutor legítimo, mas um vírus a ser erradicado.

O brasileiro médio, que paga seus (altíssimos) impostos em dia e frequenta a igreja aos domingos, cresceu acreditando que, se cumprisse as regras, o sistema o deixaria em paz. Hoje, quando liga a televisão, a novela zomba de sua fé; quando abre o jornal, o editorialista o chama de golpista por questionar a política; quando entra na escola do filho, descobre que o currículo foi desenhado para destruir a autoridade. E agora, até no momento sagrado do descanso, ao calçar suas sandálias, ele é lembrado de que ele é o inimigo.

O brasileiro percebeu, tardiamente, que a separação entre política e vida privada não existe mais. Para o sistema liberal, tudo é político, do prato que você come ao carro que você dirige e até ao chinelo que você usa. Enquanto o homem comum tenta apenas viver, as instituições bombardeiam a mensagem: “Existe um novo Brasil. Mude ou fique quieto”.

Não há lado bom nessa história, nem haverá um retorno natural ao equilíbrio. A ilusão de que podemos voltar a um Brasil apolítico, onde as marcas vendem produtos e os juízes apenas julgam, é uma ingenuidade que permitiu que o terreno fosse completamente ocupado pelo adversário. Se a direita brasileira, que representa a alma histórica do país, não ocupar as instituições, ela continuará sendo humilhada por elas. 

Para que o brasileiro possa voltar a ter uma vida normal, onde um comercial de fim de ano não seja um manifesto ideológico, será necessário construir um Brasil onde as instituições reflitam, de fato, o seu povo. Isso não significa apenas eleger representantes, mas formar artistas, reitores, diretores de criação, juízes e roteiristas comprometidos com os valores da maioria.

Até que exista um ecossistema institucional de direita – um Brasil que não tenha vergonha de ser quem sempre foi -, o cidadão comum continuará sendo um estrangeiro em sua própria terra, pisando em ovos, ou pior, sendo forçado a caminhar com o “pé esquerdo” em um país que não reconhece mais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *