Buendía parlamentar


Os parlamentares do PL, que deveriam combater o sistema e servir ao povo — diferentemente das elites já estabelecidas e viciadas no patrimonialismo —, mesmo sem qualquer entrega concreta para a população e para o movimento que os elegeu, tentam a todo custo blindar-se de críticas.

Não apoiaram Eduardo Bolsonaro — que conseguiu mover a casa de máquinas dos EUA para sancionar um ministro da Suprema Corte —, não conseguiram articular a anistia e assistiram à aprovação da dosimetria das penas na Câmara Baixa.

Participam do teatro das oligarquias ou nada conseguem fazer contra ele.

Mesmo assim, acham-se dignos de seus mandatos, postos de liderança, influência e confiança da população. É claro, estão avidamente abastecendo suas redes sociais — fazendo do eleitor uma espécie de espectador de uma novela — enquanto o Brasil desmorona diante do flash de seus celulares.

Não compreendem o poder exercido sobre eles, sobre os poderes da República e sobre o Brasil. Não têm capacidade de ler, analisar e agir para frear a agenda petista de lumpemproletarização da população brasileira.

Parece que suas únicas armas são a palavra e os “valores” — com aspas, porque esses mesmos parlamentares nunca pensaram em explicitar que valores são esses e como eles impactam a política nacional. São alienados da realidade e lembram, e muito, a estória trágica de Aureliano Buendía, do livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel GarcÍa Márquez.

Aureliano vive em um vilarejo isolado, que periodicamente recebe a visita de ciganos, que vendem toda sorte de bugigangas e contam suas aventuras pelo mundo.

Certa vez, Aureliano adquiriu uma lupa de um cigano e descobriu, quase por acaso, o poder destrutivo dela ao concentrar a luz do sol sobre pequenos objetos. Primeiro, queimou insetos, folhas secas, pedaços de papel. Fascinado, percebeu que não se tratava apenas de um truque óptico, mas de uma força real, capaz de produzir fogo e destruição sem pólvora, sem ruído, sem exército.

Convencido de ter descoberto um instrumento revolucionário, Aureliano levou a lupa aos representantes do governo que, naquele momento, mantinham presença militar em Macondo.

Com seriedade absoluta, ele demonstrou o funcionamento do objeto, queimando superfícies diante dos soldados e explicando que, em escala maior, aquela técnica poderia incendiar inimigos à distância, derrotar tropas inteiras sob o sol do Caribe, sem disparar um único tiro.

O encanto e a ilusão de Buendía com sua lupa parecem muito semelhantes à alienação dos parlamentares do PL, que vêem na palavra e no engajamento nas redes a ferramenta capaz de mudar o Brasil para melhor, mesmo que não haja sequer um projeto para colocar em ação.

Claro que a omissão de alguns tem um objetivo, uma causa final: acreditam que, com o fim do bolsonarismo, um novo movimento vai emergir e, nesse, serão os protagonistas, tomarão as decisões corretas e mudarão os rumos do Brasil.

Mas, como Aureliano, estão longe de perceber os efeitos de suas ações, seu papel ridículo e sua limitação intelectual evidenciada.

Políticos que não têm um nível de maturidade suficiente para compreender a conduta alheia — como quem não suporta uma crítica — acabam julgando as motivações e efeitos das suas ações com base em imagens obtidas da própria mídia, do falatório geral, sem ter ideia de quem são os personagens concretos e de como pensam de fato, de como sentem, qual é o horizonte de consciência etc. Agem de forma mesquinha e pensam estar passando despercebidos, ou que sua conduta narcisista de autopreservação é a atitude natural diante das circunstâncias.

No fim das contas, são apenas aculturados pensando ter descoberto uma forma de ascender na vida, de alcançar a fama e prestígio. São apenas Buendías parlamentares.

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