COP30: da crise ao fingimento

Por: Lorenzo Carrasco e Geraldo Luís Lino

Mesmo para o mais fervoroso apoiador da agenda do catastrofismo climático, salta aos olhos que, para o governo brasileiro, o rescaldo da conferência climática COP30 pode ser descrito sem má-vontade como um vexame de proporções verdadeiramente amazônicas.

Desde que Belém (PA) foi escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sediar o evento – “uma COP na Amazônia”, mote repetido ad nauseam –, com o entusiasmado apoio do governador paraense Helder Barbalho, que sonhava com uma candidatura a vice-presidente na chapa de Lula em 2026, foram inúmeras as advertências sobre a inadequação da cidade para sediar uma conferência internacional com mais de 50 mil pessoas.

Nem mesmo os mais de R$ 5 bilhões empregados na “maquiagem” da capital do Pará para receber a conferência – que poderiam ter tido aplicações incomparavelmente mais úteis para os belenenses e para o País – puderam impedir os múltiplos problemas enfrentados pelos visitantes: vazamentos de água, falta de água, mau funcionamento da refrigeração (alimentada por uma bateria de poluentes geradores a diesel), escassez de alimentos, preços extorsivos e outros, impensáveis num evento desse porte.

Problemas que culminaram com o incêndio na chamada Blue Zone, em 21 de novembro, que obrigou à evacuação das instalações e a paralisação dos trabalhos por mais de seis horas.

Quanto aos resultados, o maior golpe para os organizadores brasileiros foi terem sido forçados a contrariar a sua própria proposta de estabelecer um “mapa do caminho” para a eliminação dos combustíveis fósseis, feita pela ministra do Meio Ambiente Marina Silva e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pressionada pelas grandes potências petroleiras e pelos grandes consumidores de hidrocarbonetos – Rússia, Arábia Saudita, China, Índia e outros –, a presidência da COP retirou da declaração final qualquer menção ao tema, provocando ferozes reações dos “descarbonizadores”.

De imediato, a Colômbia e a Holanda reuniram um grupo de 30 países para anunciar a realização de uma Conferência Internacional para a Eliminação Progressiva dos Combustíveis Fósseis, na Colômbia, em abril de 2026.

Nem mesmo o desmatamento, outro cavalo de batalha do Brasil, teve o privilégio de ser objeto de um “mapa do caminho”, apesar do discurso nacional sobre um ilusório “desmatamento zero” até 2030.

Como um prêmio de consolação mambembe, o presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago, prometeu que o Brasil apresentará um “mapa” próprio para ambos os tópicos. Resta ver quem o levará a sério.

Outra desmoralização coube aos cientistas do pavilhão Ciência Planetária, que ficou praticamente às moscas, liderados pelo climatologista brasileiro Carlos Nobre e seu colega sueco Johan Rockström, parceiros na ONG Guardiões Planetários. Os dois passaram a conferência reclamando que os negociadores não os procuravam para ouvir a “palavra da Ciência” e, ao final, divulgaram um documento qualificando a ausência do “guia rodoviário” como “uma traição à ciência e às pessoas”.

Sem surpresa, os ambientalistas compartilham a apoplexia e a linguagem inflamada dos cientistas. Carolina Pasquali, diretora-executiva do Greenpeace, qualificou o texto como “praticamente inútil”. Márcio Astrini, coordenador-geral do Observatório do Clima, preferiu apontar o dedo, dizendo que a conferência deixou claras as diferenças entre “os que querem salvar o mundo e os que querem salvar o sistema” – pretensão característica da militância “verde”, lembrando que Marina Silva chegou a dizer, na CPI das ONGs do Senado, que trabalha “pela humanidade”.

Outro fiasco esperado foi a ausência de qualquer definição sobre o financiamento climático, a ilusória expectativa colocada sobre os países em desenvolvimento, de que as nações industrializadas lhes proporcionarão montanhas de dinheiro a fundo perdido para financiar uma “transição energética justa”. O documento final registra apenas a concordância em se fazerem “esforços” para triplicar o financiamento para a adaptação climática até 2035, mas sem qualquer compromisso formal quanto à origem dos valores e seu montante.

Da mesma forma, é incerta a viabilidade do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, menina dos olhos de Lula & cia., para o qual pretendiam atrair pelo menos US$ 10 bilhões de compromissos firmes em Belém. Ao final, mesmo com uma meia-volta da Alemanha, que havia decidido não participar, não se chegou nem a US$ 7 bilhões, a maior parte condicionados ao atingimento da meta original nos próximos meses, o que ainda está por se ver.

No frigir dos ovos, o desfecho denota o equívoco da insistência de condicionar a política externa brasileira à agenda encarnada em Marina Silva e sua colega Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, além da pretensão de Lula de apresentar-se como líder ambiental global.

Nem mesmo Marina, apesar de ter o seu trabalho pela humanidade aplaudido de pé na sessão final, pôde disfarçar a decepção com os resultados. “Sonhávamos com mais resultados”, admitiu.

Em um editorial de 24 de novembro (“A COP como ela é”), o “Estadão” foi certeiro na crítica ao radicalismo ideológico que tem orientado as conferências e a agenda climática em geral:

“O divórcio entre diplomacia climática e realidade material ficou claro em Belém. O palco segue maximalista, enquanto o mundo real migra para outra lógica: transições mais lentas, foco em adaptação e prioridade à segurança energética e à prosperidade como condição de resiliência climática.

“Em três décadas, a obsessão por cortar na marra a oferta de combustíveis fósseis praticamente não alterou a trajetória das emissões. A insistência num modelo que não entrega resultados, mas multiplica custos, corroeu a legitimidade política da agenda. O cansaço dos eleitores não é negacionismo: é aritmética doméstica. Energia cara destrói o consenso social. A já folclórica coxinha a R$ 45 – ainda que os preços em Belém durante a COP não tenham relação direta com a energia – serviu involuntariamente como um aperitivo indigesto do custo de vida global se vierem a prevalecer as políticas energéticas exigidas pelo ambientalismo radical.”

A rigor, talvez, a melhor definição do convescote climático de Belém seja a de Charles Rotter, colunista do site WattsUpWithThat: “Um evento que tropeçou da crise ao fingimento com toda a elegância de uma turbina eólica perdendo as suas pás.”

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