O Brasil vive uma das mais graves crises institucionais desde a redemocratização. Um ex-presidente impedido de falar. Empresários sendo monitorados. Parlamentares intimidados. A Constituição interpretada conforme a conveniência política do momento. O Estado de Direito, outrora cláusula pétrea do pacto democrático, hoje opera sob suspensão seletiva — e a resposta do maior partido da oposição é uma guerra de hashtags, faixas com fotos de Trump e eventos para tiktoker. A legenda que deveria liderar a reação republicana virou animadora de picadeiro.
O Partido Liberal dispõe da maior bancada do Congresso e de um dos maiores orçamentos partidários do país. Ainda assim, age como se sua missão fosse administrar likes. Enquanto o regime avança com medidas de exceção normalizadas, o PL permanece inerte, investindo em estética de campanha e estratégias de engajamento virtual. Como se emojis e curtidas fossem capazes de conter o avanço de um projeto de poder que, a essa altura, já não precisa mais de disfarces.
O contraste com outras iniciativas é evidente. Santa Catarina reuniu 183 entidades empresariais em defesa do Estado de Direito. O PL, com toda sua estrutura, não mobilizou sequer uma federação. Não articulou nenhuma confederação. Não envolveu um único setor produtivo. Sua paralisia institucional não pode ser explicada apenas por incompetência — ela revela uma escolha deliberada: a de não incomodar, a de manter o espetáculo funcionando, desde que os holofotes continuem voltados para dentro do próprio partido.
A pergunta é inevitável: para que serve esse partidão? Para administrar fundo? Para alimentar rede social? Ou apenas para gerir vaidades internas? A formalidade partidária virou ornamento. A estrutura virou palco. A militância virou audiência. E o debate político foi substituído por clipes de 15 segundos.
O antipetismo automático virou muleta ideológica para quem não tem projeto. Sem densidade, sem articulação institucional e sem vocação estratégica, o PL perdeu a capacidade de exercer protagonismo. Sua pauta da soberania desapareceu. Seu compromisso com o país evaporou. O que restou foi um aparelho partidário decorativo, salvo por alguns nomes isolados que ainda não se renderam ao marketing como fim em si mesmo.
Não fosse por esses poucos dissidentes internos, o PL já teria sido entregue por completo ao mesmo sistema que diz combater. Mas mesmo esses nomes, ao romperem a inércia, continuam enfrentando um aparato partidário que prefere a irrelevância estratégica à perda de controle interno.
O colapso institucional é evidente. O que falta é oposição real. O maior partido da direita se comporta como se estivesse em campanha permanente, como se o tempo histórico pudesse ser ignorado em nome da conveniência eleitoral. Mas a política não perdoa o vácuo. Quem atua como marqueteiro enquanto o regime avança, não está fazendo oposição — está apenas ajudando a manter o espetáculo em cartaz, no centro do picadeiro.
Comments (1)
Heliosays:
26 de julho de 2025 at 23:08O que pode explicar um pouco dessa crise institucional é o fato do Poder Judiciário intervir nas emendas parlamentares, querendo saber a destinação delas. O Congresso sempre teve essa liberdade para fazer a farra das emendas. Também a opção de lula e do PT de continuarem a utilizar grande parte do orçamento em políticas públicas para atender a parte mais desfavorecida da população também incomoda a Faria Lima e a classe média (essa última é quem financia tudo) porque nosso modelo tributário poupa o grande capital e deixa-o livre para investir no exterior, pegando pesado no setor produtivo.