Publicado em 08 de Setembro de 2025
O Brasil começa setembro diante de mais um espetáculo. O alvo é Jair Bolsonaro, acusado de tentar um “golpe” sem armas, sem tanques e sem soldados. É um processo marcado pelo descompasso entre a narrativa e a realidade. Não houve força militar, não houve confronto, não houve risco concreto de tomada do poder. Mesmo assim, todo o país é convocado a acompanhar o julgamento como se fosse uma crise de Estado.
A cena não é inédita. Tribunais já se tornaram o centro da política brasileira. Sessões transmitidas ao vivo, comentaristas escalados como se fosse campeonato, manchetes diárias para manter a tensão. A política, em vez de discutir futuro, se resume ao ritual de transformar adversários em réus.
Nesse modelo, sobra pouco espaço para o que deveria estar no centro do debate nacional. Questões estratégicas como indústria, energia, defesa e tecnologia ficam em segundo plano. Não se vê proposta consistente para reposicionar o Brasil na disputa global. O país que poderia liderar setores decisivos continua preso a narrativas que servem mais ao espetáculo do que à soberania.
A insistência em manter Bolsonaro sob julgamento cumpre um papel claro: afastá-lo do jogo político e desgastar sua liderança popular. A ideia de um “golpe desarmado” atende a esse objetivo. Ao mesmo tempo em que gera manchetes, garante que a energia política seja consumida em torno de um enredo conveniente para quem não quer mudanças.
O efeito é paralisante. A cada crise encenada, o Brasil perde mais um ciclo de desenvolvimento. A cada processo transformado em novela, adia-se a necessidade de enfrentar escolhas reais. A política vira teatro judicial, e o país se acostuma a confundir justiça com governabilidade.
O julgamento de Bolsonaro revela essa inversão de prioridades. Em vez de discutir um projeto de nação, preferimos a catarse do espetáculo. Em vez de preparar o país para a competição global, gastamos energia em processos que pouco contribuem para o futuro.
A tropicália institucional pode entreter por algum tempo, mas não resolve os impasses que travam o Brasil. Quando a cortina se fechar, a realidade cobrará o preço: estagnação econômica, dependência externa e falta de rumo. Não porque faltem recursos ou liderança, mas porque o sistema escolheu transformar política em julgamento e desenvolvimento em espera.