Publicado em 20 de Agosto de 2025
Durante meses, os bancos e a Faria Lima assistiram, em silêncio, ao uso do aparato judicial como ferramenta de perseguição política. Viram o avanço de medidas questionáveis, o atropelo de garantias legais, a naturalização de decisões que colocavam em xeque a previsibilidade institucional — e seguiram como se nada estivesse fora do lugar.
Foi uma decisão consciente. Preferiram não confrontar o problema — talvez por conveniência, talvez por cálculo. Havia uma aposta implícita: a crise institucional seria contida dentro do campo político e não atravessaria a fronteira do sistema financeiro. Apostaram que o dano reputacional não afetaria o ambiente de negócios. Que o Judiciário, ainda que atuando como ator político, manteria os fundamentos “sob controle”.
Agora, diante da possibilidade concreta de que o Brasil entre no radar de sanções internacionais — como prevê a Lei Magnitsky, por exemplo —, a reação do mercado vem com pressa. Cotações oscilam, setores se agitam, relatórios começam a mencionar o que antes era tratado como exagero. O que antes era “narrativa” passou a ser risco regulatório real.
Mas é tarde para alegar surpresa.
A corrosão institucional não começou ontem. E o mercado não foi um espectador inocente. Ignorou alertas, normalizou abusos e seguiu apostando que os dividendos continuariam vindo, independentemente do cenário político. Foi uma forma de conivência silenciosa, embalada por jantares com ministros, eventos com autoridades e uma fé exagerada na capacidade do sistema de absorver choques sem colapsar.
Houve também um cálculo de conveniência: defender instituições sólidas só faz sentido quando o custo é nulo. Quando o preço envolve enfrentar os donos do poder de fato, a “moderação” vira regra. Por isso, a maior parte do sistema preferiu blindar a própria posição — acreditando que poderia atravessar a tempestade mantendo os lucros intactos e as relações preservadas. O problema é que, nesse processo, comprometeu-se justamente aquilo que deveria garantir estabilidade: a confiança nas regras.
Mas chegou o momento em que o risco deixou de ser uma abstração jurídica. Ele agora aparece na planilha, no compliance, no caixa. A neutralidade calculada começa a cobrar preço. E não se trata apenas de uma questão de imagem: estamos falando da credibilidade do país enquanto jurisdição segura para negócios, contratos e investimentos de longo prazo.
A verdade é que o sistema financeiro não apenas conviveu com o desequilíbrio institucional — em muitos momentos, ele o validou. Agora que os reflexos se materializam em prejuízo, vem o espanto. O que estamos vendo é um desdobramento previsível — fruto direto de um processo sustentado por omissão, conveniência e uma confiança excessiva na ideia de que “os ventos sempre sopram a favor do capital”
Dessa vez, não sopraram.