Publicado em 16 de Agosto de 2025
Ainda impressiona que, diante da escalada institucional em curso, entidades como FIESP, CNI, FEBRABAN, FPA e diversas outras associações de classe mantenham uma postura de absoluto silêncio — especialmente em relação à única medida que poderia conter parte da crise: a anistia. A mesma anistia que, goste-se ou não, tornou-se ponto de inflexão entre a normalização institucional e a continuidade do conflito.
Não se trata mais de avaliar se essas entidades concordam com o mérito jurídico da anistia. A questão é política, pragmática e, sobretudo, institucional. Em tempos normais, associações empresariais, industriais e setoriais atuam como amortecedores de crises, cobrando do Congresso medidas capazes de restabelecer previsibilidade e segurança jurídica. Mas agora, na hora de agir, preferem se esconder.
O que se vê não é neutralidade. É omissão estrategicamente calculada. Ao não exercerem pressão legítima sobre o Parlamento, essas entidades contribuem para o aprofundamento do impasse. E o fazem enquanto se aproximam cada vez mais do governo, participando de agendas simbólicas, reforçando pactos de poder e naturalizando uma ordem que não esconde sua intenção de tensionar o sistema até o limite.
Historicamente, esses organismos desempenharam papéis relevantes em momentos críticos: fossem em transições democráticas, fossem em rupturas de ordem econômica. A FIESP de outros tempos articulava cartas e manifestos. A FEBRABAN já foi agente de cobrança pública por estabilidade. A CNI, em vários ciclos, foi voz do setor produtivo em defesa do crescimento com segurança institucional. Mas hoje, todas parecem ocupadas demais cultivando relações com o Planalto — e cegas demais para perceber que a crise atual não é episódica.
A opção por não se posicionar diante da escalada institucional será lembrada. A tentativa de sobreviver politicamente por meio da inação pode até funcionar no curto prazo, mas o custo reputacional tende a ser alto. Em algum momento, será inevitável explicar por que escolheram o silêncio quando havia uma crise aberta diante de todos.
A anistia, ainda que polêmica, virou uma linha divisória. De um lado, os que enxergam nela uma válvula de escape institucional. Do outro, os que preferem manter o país em suspenso — ou por medo, ou por conveniência. O empresariado organizado, até aqui, parece ter escolhido o segundo campo.
Não há neutralidade possível quando o regime testa, diariamente, os limites da institucionalidade. E quem, podendo agir, opta por assistir em silêncio, já não é observador. É participante. É fiador. É cúmplice.