Publicado em 06 de Setembro de 2025
Alguns sociólogos e cientistas políticos arriscam afirmar que vivemos em uma era de “política de massas”, mas isso não quer dizer que as massas sejam o agente — ou propriamente quem rege a política.
Dizer que vivemos sob uma política de massas na verdade denota impessoalidade, desarticulação e ausência de hierarquia, de autoridades espirituais e de laços sociais.
Portanto, não se trata de a massa assumir o controle da política, mas de ser usada como instrumento para influenciá-la — a massa reduzida a meio, e não tratada como fim.
Nessa circunstância, políticos, partidos e elites poderosas não estão a serviço do povo, mas tentam manipulá-lo para alcançar determinados fins, geralmente afirmando buscar o bem comum.
Quando se fala em controle de massas, é inevitável lembrar da política de pão e circo da antiga Roma imperial.
A expressão latina panem et circenses (“pão e circo”) foi cunhada por Juvenal, em sua Sátira X, no início do século II d.C., que, de forma poética, expressou como os subsídios governamentais à população pobre e o espetáculo poderiam ser utilizados como ferramentas de controle e manipulação política.
Hoje em dia, o “circo” pode muito bem ser visto na indústria cultural, que lança tendências de consumo, cultura e ideologia. O aparato midiático contemporâneo é usado descaradamente para manipular a população e alcançar determinados objetivos políticos.
Assim como os imperadores usavam o circo para anestesiar as massas, o complexo midiático utilizado pelo establishment fez da política um espetáculo, no qual não importam as consequências de uma determinada política, mas as emoções geradas diante de uma narrativa.
Um exemplo claro e contemporâneo de espetacularização da política foi a aprovação relâmpago da chamada “Lei Felca”.
A lei foi aprovada aproveitando a comoção de um vídeo viral do influenciador que deu nome à lei, sem grandes debates no parlamento, sem críticas, escrutínio ou apologia — um toque de caixa que explorou a emoção das massas diante da narrativa de proteção das crianças.
No fim das contas, quais serão os efeitos da Lei Felca? Sua aprovação foi boa ou ruim? Eis o grande problema: não houve reflexão, debate e estudo; o PL 2628/22 foi aprovado sem passar por qualquer uma dessas etapas. Seus efeitos, ao contrário da narrativa e da emoção, serão duradouros, e as consequências alcançarão todo o tecido social brasileiro. A narrativa passará, a emoção será aplacada, mas o poder será implacavelmente exercido pelos instrumentos políticos, institutos jurídicos e normas burocráticas criadas pela comoção social. É essencial ao país amadurecer e sair dessa manipulação que o circo midiático dita. Ou, assim como em Roma, o resultado será que acabaremos sem pão nem circo.