O oásis de gesso da Faria Lima

Publicado em 13 de Novembro de 2025

Nos corredores do mercado financeiro, a única realidade que parece importar é a que pisca em verde nos terminais da B3. Enquanto eles celebram recordes – como o Ibovespa superando 157 mil pontos numa sequência histórica de altas -, a nação experimenta uma fratura existencial. A mais recente pesquisa IBESPE de novembro de 2025 não foi um mero levantamento de opinião, mas um retrato do atestado divórcio irreconciliável entre o Brasil que sente a dor da desordem que o governo impõe, e a elite econômica que lucra com a normalização dessa barbárie. A questão já ultrapassou o antigo limiar: não nos perguntamos mais se o mercado ainda está otimista, e sim por que a sua prosperidade se alimenta da negação da realidade dos brasileiros mais sofridos.

Essa crise é o resultado maduro de um longo processo de inversão de valores, precisamente o fenômeno que Edmund Burke diagnosticou como o âmago da ideologia revolucionária: a demolição das tradições e instituições que garantem a ordem em nome de uma abstração ideológica. No Brasil, essa engenharia social encontrou sua perfeita tradução no projeto de hegemonia cultural implementado pelo PT e seus satélites por décadas. Ao capturar a academia, a imprensa e as instituições, a esquerda logrou deslegitimar a autoridade do Estado e reconfigurar a moral nacional, transmutando o criminoso em vítima e a força da lei em opressão.

Os efeitos desse projeto são hoje visíveis a olho nu e mensuráveis em qualquer métrica. Enquanto 72,8% dos brasileiros clamam para que o crime organizado seja tratado como terrorismo, o governo federal se recusa a fazê-lo, recorrendo a sofismas sobre “soberania” para proteger facções que impõem um terror muito mais imediato e brutal aos seus cidadãos. A condenação repetida e veemente das operações policiais contra traficantes, como a ocorrida no Rio de Janeiro, não é um deslize, mas a expressão coerente de uma visão de mundo que enxerga no aparato de segurança do Estado o verdadeiro inimigo. O Estado, atuando de caso pensado em um plano que claramente não envolve o bem estar de quem mais precisa dele, recua, e o vácuo de poder é preenchido pela barbárie do narcoterrorismo.

É neste exato contexto de degradação social que o paradoxo do mercado financeiro se revela em sua plenitude. A euforia especulativa trata o colapso do contrato social como simples ruído, uma variável irrelevante para o fechamento de balanço trimestral. A aliança profana entre um mercado desenraizado da vida do povo e o progressismo cultural se mostra cada vez mais real. Na sua miopia tecnocrática, os banqueiros celebram ganhos cada vez maiores enquanto ignoram, e até se beneficiam, da erosão dos alicerces culturais e institucionais que o país precisa para se entender e funcionar como nação. E assim se forma um pacto onde se aceita a anomia e a desintegração do tecido social em troca da manutenção de uma agenda econômica de curto prazo que sustenta a bolha financeira.

A prosperidade da Faria Lima, quando se recusa a tirar a trava dos olhos para enxergar a situação catastrófica do país, é parasitária e construída sobre um oásis de gesso. Ela se nutre de um país que pede socorro, ignorando que os mesmos portões de condomínio que hoje protegem seus executivos não vão ser capazes de conter o caos quando o contrato social for rasgado de vez. A festa na bolsa de valores não é o prenúncio de um futuro brilhante pro país. Ela está mais para uma trilha sonora para a admissão do Brasil nação à UTI, enquanto uma pequena elite dança sobre os escombros, confundindo a falta de humanidade com saúde e o silêncio dos resignados com paz.

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