O que conhecemos hoje como política, foi desenvolvido durante o período helênico, na colonização da Ásia Menor.

Os colonizadores gregos tinham um projeto, uma imagem pré-concebida de suas próprias cidades, com arranjos institucionais, ordem social, leis etc.

Um grupo político precisa agir de forma homogênea na polis; um grupo de colonizadores gregos jamais tentaria impor um arranjo de leis ou instituições brutalmente diferentes das defendidas pelo chefe da expedição na Ásia Menor.

Esse parece ser um princípio intuitivo, básico da política, pouco observado e valorizado no Brasil.

O movimento contracultural antipetista, que hoje está tomando a forma de um nacionalismo civilizacionalmente cristão, não tem um corpo doutrinal homogêneo, ou minimamente definido. Muito se discute sobre “princípios e valores” e, de certa forma, muitos buscam nisto a unidade do movimento contracultural no Brasil.

Mas é preciso admitir que, mais importantes que princípios e valores são os projetos políticos aos quais os políticos se dedicam, e como utilizam seus meios de ação para projetar esses valores e princípios que alegam aderir. 

O que os políticos pretendem construir com seus mandatos, articulações e meios de ação, é o fator realmente determinante no sucesso ou fracasso de um grupo político.

Está claro que valores e princípios fundamentam ações, mas, para um movimento ainda nascente, com pouquíssimos debates intelectuais e conclusões, discutir princípios sem discutir projetos de nação e ações políticas pode acabar mantendo a discussão em uma dimensão abstrata demais para resolver problemas imediatos.

Usando esse critério para analisar como Bolsonaro está tentando conduzir o seu projeto político, destaca-se o fato de que um dos maiores problemas na condução de seus acordos e ações políticas, são seus próprios aliados, que, por imaturidade ou ímpeto de ocupar espaços, acabam atrapalhando seus planos de ação.

A eleição de SP foi um exemplo. Tínhamos uma parte do PL criticando publicamente a adesão à candidatura de Ricardo Nunes, mesmo com o apoio pessoal de Bolsonaro a Nunes.

Outro exemplo: recentemente, Bolsonaro precisou lidar com uma reação desproporcional do deputado Gustavo Gayer sobre as falas públicas de Lula quando da nomeação de Gleisi Hoffmann para chefiar a Secretaria de Relações Institucionais. Segundo o deputado, o presidente parecia estar oferecendo a ministra ao congresso como uma garota de programa.  

É patente a falta de sensibilidade do parlamentar que causa tal estresse em um momento tão delicado, estresse que reforça o discurso infantilóide do establishment sobre combate ao ódio e ofensas nas redes.

Às vésperas da manifestação em favor da anistia e às portas do julgamento de seu processo sobre o suposto golpe de Estado, Bolsonaro precisará lidar com tal desgaste diante de Alcolumbre e Hugo Motta – ambos receberam apoio de seu partido nas eleições para a presidência da Câmara e do Senado e estavam estabelecendo relações políticas com o ex-presidente.

Uma parcela da população brasileira está ciente da falta de proporção e isonomia que os conservadores enfrentam. Isso não deveria reforçar nossa prudência e discrição? Não deveríamos estar trabalhando as bases eleitorais e redobrando o cuidado nos discursos públicos?

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