O resultado da pesquisa Ipsos, que aponta que o governo é pior do que o esperado, é apenas a ponta de um iceberg que há tempos flutua à deriva no mar da política brasileira. Não chega a ser uma surpresa, mas uma constatação amarga do que já se desenhava: a incapacidade de entrega e a repetição de erros conhecidos. Dizer que “o brasileiro não tem memória” não é só um desabafo, mas uma análise afiada de uma sociedade que, por desinteresse, manipulação ou pura exaustão, parece incapaz de aprender com o passado. Assim, segue apostando fichas em quem já provou, com ações e omissões, que não está à altura do que o país precisa.

Como esperar algo diferente de um governo que, em vez de priorizar o interesse nacional, escolhe sistematicamente favorecer os seus comparsas? Não se trata apenas de promessas não cumpridas — essas já viraram lugar-comum. É a teimosia em colocar os “companheiros” acima do Brasil, seja por alianças questionáveis, favorecimentos escancarados ou políticas que atendem mais aos interesses de uma casta política do que à população. Os exemplos estão aí na história recente: escândalos que explodem, viram notícia e logo são engolidos pelo esquecimento, enquanto os mesmos atores reaparecem com novas promessas, como se não houvesse o passado.

A economia é um dos sinais mais claros desse fracasso. Políticas mal planejadas, improvisadas ou abertamente populistas afundam o país em dívidas e inflação, enquanto o mercado financeiro, com sua lógica própria, se adapta e lucra em meio ao caos. Banqueiros e investidores, com acesso privilegiado a informações e influência, saem ganhando, enquanto o cidadão comum amarga o desemprego e a estagnação. Na segurança pública, a situação é igualmente sombria: a violência cresce e as estratégias efetivas não acontecem. O que sobra são discursos pomposos que não saem do papel. A corrupção já não choca mais, tornou-se rotina — exposta à exaustão, mas incapaz de gerar uma revolta duradoura ou uma mudança concreta nas urnas.

A responsabilidade, porém, não é só de quem está no poder. O brasileiro, como sociedade, tem seu papel nesse enredo. A indignação existe, mas é fugaz. As redes sociais explodem em críticas e desabafos, mas, na hora de decidir, muitos cedem às narrativas frágeis, aos carismas ocos ou à ilusão de que “dessa vez será diferente”. É um ciclo vicioso: vota-se mal, cobra-se pouco, esquece-se rápido. A pesquisa Ipsos não inventa nada — ela reflete essa relação tóxica entre a incompetência dos governantes e a apatia de quem os escolhe.

E o problema vai além. A educação, por exemplo, segue como um ponto fraco. Subfinanciada e mal gerida, mantém gerações reféns de uma visão limitada do que o país poderia ser. A desigualdade social, já enraizada, só aumenta com políticas que privilegiam os lucros do mercado financeiro em vez de atacar as causas estruturais da miséria. Enquanto isso, os serviços públicos definham, e a sensação de abandono se espalha, sobretudo entre os que mais precisam do Estado. Quem se dá bem? Os grandes players do mercado, que navegam nas crises com a segurança de quem sabe que, no fim, o sistema sempre os protege.

O resultado da pesquisa Ipsos é um retrato cruel de uma crise de expectativas e de responsabilidade compartilhada. O governo é pior do que o esperado porque, talvez, o esperado já fosse modesto — e nem isso foi entregue. Mas quem permite que isso se perpetue? Quem, eleição após eleição, dá chances a quem já demonstrou não merecê-las? O Brasil não é refém apenas de seus governantes, mas de uma memória curta que apaga os erros e recicla os culpados. Enquanto não houver um despertar coletivo, uma cobrança séria e consistente, seguiremos nesse roteiro repetitivo de frustrações. O país merece mais, mas o primeiro passo é admitir que o espelho também reflete quem o atrasa. 

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