O Colapso Começa Dentro: Como a Conivência das Elites Precede a Punição dos Mercados

Não são as tarifas que arruínam um país. São os pactos internos de conveniência. O colapso de uma nação não começa no anúncio de uma sanção ou no fechamento de uma fronteira comercial. Ele começa quando as instituições deixam de se submeter a princípios objetivos e passam a operar por alinhamento, temor ou cálculo. E, nesse processo, o papel das elites não é coadjuvante — é central.

Toda elite tem uma escolha a fazer quando a ordem institucional começa a se desfigurar: resistir ou lucrar. Na maioria das vezes escolhe lucrar. Não por malícia pura, mas porque aprendeu a operar em ambientes instáveis, a extrair vantagens do caos, a explorar os vácuos criados por crises políticas, jurídicas e sociais. E enquanto os pequenos recuam, os grandes moldam o ambiente ao seu favor — até que o próprio ambiente deixe de ser sustentável.

A retórica de que “as sanções são injustas” mascara uma verdade incômoda: o tarifaço anunciado por Donald Trump nada mais é que a consequência visível de uma cadeia de sinais internos ignorados. Quando a diplomacia se omite, o Judiciário vira trincheira ideológica, o Executivo perde coerência e o Legislativo se torna cúmplice do silêncio — o resultado é previsível. O país deixa de ser confiável. E confiança, em comércio exterior, é tão importante quanto qualidade ou preço.

Mas há algo ainda mais perverso: é quando a elite econômica passa a fingir que tudo está em ordeme trata abusos institucionais como “ruídos políticos”. Quando lida com perseguições seletivas como “ajustes temporários “e tolera censura judicial como se fosse um efeito colateral necessário. O problema não é apenas a omissão — é a normalização. É a tentativa de transformar exceção em regra, instabilidade em estética e arbitrariedade em técnica.

A narrativa oficial continuará dizendo que os problemas vêm de fora. Que o mundo nos persegue, que as potências nos sabotam. Mas o mundo apenas reage. Reage ao enfraquecimento das salvaguardas democráticas, ao desaparecimento do contraditório, ao fato de que as instituições brasileiras já não garantem previsibilidade jurídica nem segurança política. O pior é que setores estratégicos da sociedade fingem não ver nada disso.

Há um preço para esse tipo de fingimento. Ele vêm em forma de isolamento, restrição, descrédito; vêm na retração dos investimentos, na migração das cadeias produtivas, na perda de relevância internacional. Não porque o país seja pobre ou desorganizado, mas porque se tornou, aos olhos do mundo, institucionalmente instável — e, por isso, imprevisível.

O momento exige mais do que notas em jornal ou alertas técnicos. Exige que a elite econômica rompa com a covardia estratégica que a impede de reconhecer a desordem institucional como vetor de destruição econômica. Porque o risco, desta vez, não está apenas nos indicadores. Está na simulação coletiva de normalidade, que transforma a elite de hoje em cúmplice — e amanhã, em refém do próprio silêncio.

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