
Num reluzente palco de Harvard, André Esteves, o maior acionista do BTG Pactual e dono de uma fortuna de US$ 6,9 bilhões, vestiu o figurino do coitadismo. Ele, que subiu quase 100 posições na lista da Forbes em apenas dois anos, apresentou-se como vítima das altas taxas de juros no Brasil. Dias antes, Alfredo Setúbal, outro gigante das finanças, lamentava a falta de “boas oportunidades” para investir seus bilhões ociosos. É o novo esporte dos banqueiros: chorar em público enquanto contam lucros recordes. O BTG Pactual fechou 2024 com R$ 12 bilhões de lucro; o Itaú Unibanco, maior banco privado do país, foi ainda mais longe, registrando um lucro líquido recorrente gerencial de R$ 41,4 bilhões — o maior da história bancária brasileira, corrigido pela inflação.
Enquanto a economia real — dos pequenos negócios, dos trabalhadores, do varejo — cambaleia sob o peso dos juros altos, o Setubal e Esteves surfam na mesma onda. A Selic elevada, que encarece o crédito para o brasileiro comum, engorda os spreads bancários e amplifica os lucros do setor financeiro. O Itaú, com um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de 22,1% em 2024, transformou cada real investido por seus acionistas em mais de 22 centavos de lucro, um dos maiores indicadores de rentabilidade do mercado.
A narrativa de Esteves é uma clássica falácia do espantalho: distorce a realidade, pinta os juros como vilões de sua fortuna e omite que o sistema financeiro prospera exatamente nesse ambiente.
O vitimismo dos banqueiros não é só hipocrisia; é uma cortina de fumaça. Ao posarem de prejudicados, desviam a atenção da concentração de riqueza que seus impérios representam. O Itaú, com R$ 3,04 trilhões em ativos, é um colosso que molda o mercado financeiro brasileiro. Em 2024, enquanto o PIB nacional avançou timidamente, o banco distribuiu R$ 28,7 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio, um aumento de 33,8% em relação a 2023. Esses bilhões beneficiaram acionistas, mas o crédito caro continuou a sufocar empreendedores, consumidores e a classe média. No Brasil, onde o spread bancário está entre os mais altos do mundo, os lucros dos bancos crescem descolados da economia real, que luta para respirar.
As queixas de Esteves e Setubal não são lapsos; são sintomas de um setor que domina o jogo e quer posar de vítima. Banqueiros como eles não apenas lucram com um sistema desigual — eles constroem este sistema. Influenciam políticas públicas, pressionam por condições que maximizem seus ganhos e se beneficiam da escassez de crédito que dizem combater. Quando Setúbal reclama da falta de “boas oportunidades”, ignora que, para bancos como o Itaú, o Brasil já é um paraíso: o setor financeiro concentra uma fatia desproporcional da riqueza nacional, enquanto investimentos produtivos, como infraestrutura, tecnologia ou inovação, ficam na penumbra, subfinanciados.
O choro dos bilionários é mais que uma cena constrangedora; é um alerta. Enquanto o Itaú celebra lucros históricos e banqueiros se dizem prejudicados, o Brasil permanece refém de um modelo econômico que privilegia poucos e asfixia muitos. A falácia do espantalho pode encantar plateias em Harvard, mas os números contam a verdadeira história: o lucro de R$ 41,4 bilhões do Itaú, os R$ 12 bilhões do BTG, os R$ 28,7 bilhões em dividendos. Quem realmente sofre com os juros altos não está discursando em púlpitos internacionais, nem contando bilhões em caixas abarrotadas. Está na luta diária, servindo e pagando o preço do banquete dos bilionários chorões da Faria Lima.