
Publicado em 17 de Novembro de 2025
Em uma era desprovida de grandes convicções, a ideia de que o país é uma empresa gerida por um CEO é uma dessas tolices alardeadas com o entusiasmo que apenas um tolo consegue propagandear. Dita com ares de uma grandiloquente novidade, esse tipo de aforismo, fantasiado de uma inteligentíssima analogia, só é aplaudido por um tipo muito peculiar, aquele cujo horizonte de eventos jamais ultrapassou a acumulação de bens materiais. O tipo de homem cujo ápice da preocupação ordinária consiste na dúvida de qual seria a largura da caixa do seu relógio e que tipo de calça social, beirando as canelas, ele deveria usar com seu sapato de couro.
No mundo real, longe da artificialidade da Faria Lima, um político precisa ser algo mais do que um medíocre CEO, não um mero tecnocrata prestimoso, doido para servir docilmente à elite plutocrata.
Se um candidato almeja ser algo além de um empreendedor, se quer representar pessoas e liderar um país, precisa de um conjunto de características que comece passando pela coragem e auto-sacrifício. O sujeito que se desculpa com tiranos, que ignora senhorinhas de idade sendo jogadas na cadeia e se favorece da chantagem covarde contra um homem inocente para tirar proveito político, jamais será um líder de uma nação.
Um sujeito cujo imaginário público nunca ultrapassou os cacoetes dos coaches do mercado financeiro pode ser um CEO razoável, mas jamais será um líder político.
Tarcísio é uma figura medíocre, na mais rigorosa definição da palavra. É o nosso Gavríl Ardaliónovitch, do romance O Idiota, de Dostoievsk. E, como Ipolít, conclamo:
“Eu detesto você simplesmente porque — e há de este ‘simplesmente porque’ lhe parecer maravilhoso —, simplesmente porque você é o tipo, a encarnação, o suprassumo da mais insolente, da mais vulgar, da mais repugnante e da mais pomposa mediocridade. A sua mediocridade é feita de pompa, de vaidade, de contentamento olímpico. Você é mais ordinário do que o que de mais ordinário possa haver. Jamais a menor ideia de vontade própria se esboçou no seu coração, quanto mais em seu espírito! Acresça-se a isso que sua vaidade não tem limites; você se persuadiu de que é um grande gênio; como, porém, a dúvida às vezes lhe tira o sono em certos momentos opacos, então, por isso, a sua inveja e seu rancor se desmandam. Mas esses trechos opacos, sim, negros, ainda lhe toldam o horizonte. Quando, porém, você acabar de ficar estúpido, o que não falta muito, eles se clarearão. Mesmo assim, jaz diante de você uma longa e tortuosa estrada. Como me alegro em não poder chamá-la uma estrada prazenteira!”
Não, senhores de calças curtas! Fiquem vocês com suas marionetes sem alma e nos deixem aqui com um homem comum. Pois um político tem que ser, acima de qualquer liturgia do cargo, um ser humano. É isso que nós, homens comuns, almejamos. Esperamos que todo político seja um polemista, um cavaleiro andante sempre disposto a sacar sua espada em defesa de seus ideais, tempestuoso e altivo como o mar de março. Que esteja disposto a entregar prontamente a pompa em nome da honra e que acredite firmemente em seus ideais; alguém que esteja disposto a nos elevar até o mais alto dos céus ou a descer até o mais pérfido dos infernos, combatendo todos esses novos demônios para defender nossa civilização e todos os seus valores sagrados que tão arduamente conquistamos.