O Brasil entregue ao crime

Publicado em 14 de Outubro de 2025

É triste constatar que, para descrever o Brasil de 2025, há uma analogia cada vez mais atual e perigosa: a de um Estado em processo de falência, seguindo o roteiro de países como o Haiti ou a Somália. Pode soar como um exagero, mas a realidade é que Brasil já é um país totalmente distinto do que se diz ser. 

O mapa do Brasil que você conheceu na escola não existe mais. O atual tem fronteiras estaduais sobrepostas por novas linhas que delimitam os domínios de impérios criminosos. Dados de inteligência revelam que 64 facções criminosas operam em território nacional. Para 26% da população brasileira isto não é só uma estatística, é o cotidiano. Eles vivem sob um poder paralelo que impõe leis próprias e substitui o Estado, em espaços de soberania perdida onde a Constituição não tem valor.

A mudança dos criminosos comuns para um senhor da guerra é o mais alarmante. Eles conduzem operações de assalto a cidades inteiras com seu “novo cangaço”, sitiando municípios com táticas de guerra. Facções no Rio de Janeiro usam tecnologia vista nos campos de batalha da Ucrânia, muitas vezes operados por militares contratados pelo crime. A Polícia Federal estima em R$ 6 bilhões o capital apenas do CV e do PCC. Eles não são mais gangues; são corporações transnacionais do crime, que controlam rotas em portos estratégicos do país, lavam dinheiro no mercado financeiro e elegem seus próprios representantes políticos para garantir blindagem institucional.

Enquanto esse poder paralelo cresce, uma engenharia jurídica trabalha para frear a reação do Estado. Decisões como a que impôs restrições a operações policiais no Rio de Janeiro, na prática, funcionam como um salvo-conduto para a expansão territorial das facções. Leis penais são afrouxadas e garantias processuais são aplicadas para criar um ambiente de quase impunidade para líderes criminosos.

É aqui que a análise criminal se torna insuficiente e entramos na real dimensão da tragédia. A energia que o Estado deixa de aplicar contra o crime organizado é canalizada contra um alvo completamente diferente: o inimigo político. O atual paradoxo brasileiro é o de tolerância sistêmica com o narcoestado e de intolerância absoluta com a dissidência política.

Essa tática pode ser vista na história com muita clareza nos Processos de Moscou que Stálin capitaneou, onde conspirações eram inventadas para justificar o fim de opositores. No Brasil atual, a acusação de “atos antidemocráticos” ou de “fake news”, tipos penais abertos e subjetivos, viraram ferramenta para censurar a imprensa, cassar mandatos de parlamentares e prender cidadãos por crimes de opinião. Inquéritos intermináveis e sigilosos, conduzidos pela mesma corte que julga, transformaram o devido processo legal em um teatro do absurdo.

Por isso a comparação com a Somália ou Haiti é mais precisa do que parece. A falência do Estado brasileiro, o país com o maior número de assassinatos no mundo, é fruto de uma desintegração administrada, negociada e juridicamente blindada, onde fatias de soberania são entregues em troca da manutenção de um projeto ideológico hegemônico.

O crime organizado não precisou tomar o Estado à força; ele foi convidado a se tornar sócio informal na administração do território. Em troca, o estado tem tempo para focar naquilo que realmente o ameaça: a liberdade de expressão do pensamento conservador.

A questão não é mais se o Brasil está no caminho da destruição, mas quanto tempo levará até que o mundo reconheça que, por baixo da frágil fachada da “grande democracia tropical”, a transformação já começou.

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