
Publicado em 03 de Novembro de 2025
Causa espanto ver parte do empresariado e da Faria Lima ainda presa ao dogma liberal, como se o mundo não tivesse mudado de direção. O livre mercado, tratado por décadas como sinônimo de progresso e eficiência, já não é a base do poder global. As nações que atualmente se destacam são as que compreenderam que o desenvolvimento não surge sozinho, mas de quem planeja, orienta e financia o próprio projeto de país. O capital, quando se afasta dessa estratégia, transforma-se em fraqueza, não em prosperidade.
Nos Estados Unidos, o movimento é visível. O liberalismo clássico deu lugar a uma economia guiada por propósito nacional, em que o poder público e o setor privado se articulam para sustentar a liderança tecnológica e industrial americana. Bancos e fundos antes obcecados por retornos imediatos agora tratam o longo prazo como questão de soberania. O JP Morgan é um exemplo claro: direciona crédito e investimento para áreas estratégicas, como energia, infraestrutura, semicondutores e defesa, mesmo quando o ganho imediato é menor. Isso não é altruísmo, é compreensão de poder. O capital volta a operar em sintonia com o interesse de quem produz e governa.
Essa mudança expõe o atraso da elite financeira brasileira, que ainda repete a cartilha liberal como se nada tivesse acontecido. A crença na “mão invisível” persiste mesmo diante dos resultados: desindustrialização, dependência tecnológica, fuga de capitais produtivos e a ascensão de um rentismo que paralisa o país. Enquanto as potências reorganizam seus bancos e empresas com base em estratégias nacionais, o Brasil continua como praça financeira periférica, dependente de fluxos externos, juros altos e promessas de estabilidade que nunca se confirmam.
O contraste não está só nos números, mas na maneira de pensar. Lá fora, compreende-se que o poder nasce da capacidade de decidir para onde o dinheiro vai. Aqui, ainda se alimenta a ilusão de que o mercado, por si só, resolverá tudo. Essa renúncia de protagonismo é o que mantém o país refém. Quando o crédito é comandado por interesses que não pertencem ao território, o Brasil deixa de ter economia e passa a administrar sua própria dependência.
O que falta ao empresariado brasileiro não é capital, mas direção. O ponto aqui não é idealismo, mas clareza de propósito. Um país livre e soberano é mais rentável do que uma colônia estável. A autonomia cria cadeias de valor próprias, fortalece a moeda, dá previsibilidade e atrai investimento de verdade, aquele que constrói e multiplica, não o que apenas circula. Esse é o motivo pelo qual as potências que abandonaram o velho dogma liberal voltam a crescer enquanto o Brasil se acomoda.
A elite financeira brasileira ainda confunde dependência com liberdade e chama submissão de pragmatismo. Falta reconhecer que o mundo está sendo redesenhado por quem decidiu retomar o controle. Cada país que assume a gestão do próprio crédito, energia e produção não se isola, apenas ocupa o espaço que lhe pertence numa ordem global novamente moldada por Estados e não por fundos.
O Brasil precisa escolher se quer continuar como vitrine de dependência ou como referência de desenvolvimento. Um país soberano não apenas produz, ele define, conduz e colhe os frutos do que constrói. Enquanto o empresariado continuar tratando independência como risco, seguirá servindo a quem já entendeu o movimento, aqueles que transformaram o capital em poder, não em amarra.