A esquerda e o centro fingem disputar o controle da narrativa pública, mas, na prática, jogam no mesmo tabuleiro. Um finge polarizar, o outro finge pacificar — e ambos se revezam conforme o tema. A “polarização” é usada como recurso para manter a população em guerra sobre identidades, enquanto os temas que realmente consolidam o controle — economia, cultura, soberania — são blindados por um falso consenso.
A chamada “polarização” que o governo Lula reaquece (rico vs pobre, “nós contra eles”) é cuidadosamente coreografada. Serve menos para gerar conflito real e mais para mobilizar paixões superficiais, empurrando o debate para a caricatura. Mas repare: ela só aparece quando se fala de reforma tributária, precatórios, orçamento secreto, estatais — ou seja, quando interessa tensionar para justificar mais intervenção estatal, mais tributos, mais controle. É uma polarização utilitária.
Em contraste, o “centro”, com seu verniz tecnocrático, surge com a narrativa da “pacificação”, como se fosse o único adulto da sala. Mas sua pacificação é igualmente seletiva: ela só existe para proteger as estruturas já capturadas — o Banco Central, o mercado de capitais, os fundos de investimento, as agências multilaterais. Ninguém fala em pacificar quando o assunto é taxar o agro ou impedir que um motorista de aplicativo seja espoliado com crédito consignado. A paz do centro é a paz dos que já venceram.
Mas o ponto mais estratégico — e mais revelador — está naquilo que nenhum dos dois lados quer tocar: os temas morais, culturais e de soberania.
Onde está a “polarização” sobre a agenda woke, ambiental ou educacional?
Silêncio.
Onde está a “pacificação” quando se trata de valores, família, fé ou proteção da infância?
Ausência.
A esquerda empurra a agenda de costumes com arrogância moral. O centro, por sua vez, consente com omissão covarde. Ambos terceirizam a decisão para tribunais, organismos internacionais ou “consensos científicos”, tirando o debate das mãos do povo. Isso não é pacificação. É censura disfarçada. É imposição sem conflito aparente — e por isso mesmo, mais eficaz.
Ou seja: não há verdadeira polarização onde deveria haver — nos valores, nas escolhas civilizacionais. E não há verdadeira pacificação onde ela seria necessária — nas bases econômicas, na convivência institucional.
Ambos operam sob a mesma engenharia narrativa. Um joga com o grito. O outro, com o silêncio. Mas o projeto é o mesmo: excluir o cidadão comum da tomada de decisões reais, infantilizando o debate e terceirizando a soberania.