
Publicado em 26 de Outubro de 2025
Por Lorenzo Carrasco e Geraldo Luís Lino
A concessão da licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) à Petrobras, para a realização de uma sondagem exploratória no Bloco 59 da Margem Equatorial Brasileira (MEB), no litoral do Amapá, anunciada na segunda-feira 20 de outubro, deflagrou um tsunami de histeria coletiva entre o aparato ambientalista-indigenista internacional que opera no Brasil.
A reação, mais que previsível, proporciona uma pedagógica demonstração do modus operandi da “Máfia Verde”, em especial, no que se refere à manipulação da narrativa catastrofista que constitui o seu principal instrumento de ação. Neste quesito, merece atenção o “press release” do Observatório do Clima (OC), que sintetiza a fúria do aparato “verde-indígena” com a liberação da exploração às portas da conferência climática COP30.
Para o OC, “a aprovação é uma sabotagem à COP e vai na contramão do papel de líder climático reivindicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário internacional”.
O texto prossegue com uma ameaça ostensiva:
“A decisão é desastrosa do ponto de vista ambiental, climático e da sociobiodiversidade e, para enfrentá-la, organizações da sociedade civil e movimentos sociais irão à Justiça denunciar as ilegalidades e falhas técnicas do processo de licenciamento, que poderiam tornar a licença nula.”
Uma mistificação:
“Além de contrariar a ciência, que diz que nenhum novo projeto fóssil pode ser licenciado se quisermos ter uma chance de manter o aquecimento global em 1,5oC, a liberação do petróleo na Foz também se opõe a decisões legais de tribunais internacionais sobre a urgência da interrupção da expansão dos combustíveis fósseis, incluindo deliberações recentes da Corte Interamericana de Direitos Humanos e da Corte Internacional de Justiça, que reforçam a obrigação legal dos Estados-nação de protegerem o clima.”
E uma proposição que sintetiza a agenda de “exclusão econômica” da Amazônia:
“Povos indígenas da Bacia Amazônica, parlamentares e sociedade civil vêm reiterando a necessidade de acabar com a expansão de petróleo e gás, sobretudo em áreas de alta biodiversidade, e de criar zonas de exclusão para atividades extrativistas, a fim de proteger ecossistemas críticos para o planeta – começando pela Amazônia. É preciso estabelecer zonas prioritárias de exclusão da proliferação dos combustíveis fósseis, protegendo ecossistemas críticos para a vida no planeta. Por sua imensa relevância para o clima e para a biodiversidade, que enfrentam crises globais, a Amazônia deve ser uma dessas zonas, tanto para a exploração onshore quanto para a offshore.”
Suely Araújo, que chefiou o Ibama no governo Temer e hoje dá expediente como coordenadora de Políticas Públicas (sic) do OC, dispara:
“A emissão da licença para o Bloco 59 é uma dupla sabotagem. Por um lado, o governo brasileiro atua contra a humanidade, ao estimular mais expansão fóssil contrariando à ciência e apostando em mais aquecimento global. Por outro, atrapalha a própria COP30, cuja entrega mais importante precisa ser a implementação da determinação de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis. Lula acaba de enterrar sua pretensão de ser líder climático no fundo do oceano na Foz do Amazonas. O governo será devidamente processado por isso nos próximos dias (grifos nossos).”
Para argumentar em termos “científicos”, é convocado o Dr. Carlos Nobre, climatologista que é o “sumo-sacerdote” do templo catastrofista no Brasil:
“(…) Além de zerar todo desmatamento, degradação e fogo na Amazônia, torna-se urgente reduzir todas as emissões de combustíveis fósseis. Não há nenhuma justificativa para qualquer nova exploração de petróleo. Ao contrário, deixar rapidamente os atuais combustíveis fósseis em exploração é essencial.”
Fundado em 2002, o OC se apresenta como “a principal rede da sociedade civil brasileira com atuação na agenda climática”, reunindo 133 ONGs e outras entidades engajadas na promoção do catastrofismo climático. Em seu site, aponta como doadores institucionais: Instituto Clima e Sociedade (iCS); Climate and Land Use Alliance; Rainforest Foundation Norway; Fastenaktion; Packard Foundation; Global Methane Hub; Earth Alliance (Re: Wild); Open Society Foundation; e European Climate Foundation.
Curiosamente, seus relatórios financeiros anuais não constam mais do site.
Em 2015, o OC criou a MapBiomas, ONG dedicada a produzir relatórios anuais sobre a evolução da cobertura e os usos do solo no território brasileiro, com base na plataforma Google Earth Engine, atuando como coordenadora de uma rede de ONGs, universidades e empresas de tecnologia, organizadas por biomas e temas transversais, com forte influência na política ambiental brasileira.
Em dezembro de 2024, o OC divulgou o relatório Futuro da Energia: visão do Observatório do Clima para uma transição justa no Brasil, documento que exemplifica a visão retrógrada do movimento ambientalista-indigenista. Para não estender-nos em demasia, citamos apenas algumas das suas “medidas essenciais para a transição energética justa no Brasil”:
“- a reversão da proposta governamental de expansão da exploração de petróleo em novas fronteiras, notadamente a Foz do Amazonas e outras bacias da Margem Equatorial brasileira;
“ – a transformação da Petrobras numa empresa de energia, com foco no desenvolvimento de novos negócios, redução progressiva da produção de petróleo e investimento relevante em fontes de baixo carbono, mediante estratégias que assegurem a manutenção valor da empresa no mercado;
“- a garantia de que o necessário processo de reindustrialização do país seja pautado pela necessidade de redução das emissões de gases de efeito estufa;
“- a garantia do desenvolvimento da indústria de hidrogênio com efetivo baixo teor de carbono, livre do gás fóssil;
“- a eliminação do uso do carvão mineral para geração de eletricidade até 2027 e a redução progressiva de seu uso industrial;
“- a vedação da construção de grandes hidrelétricas (usinas com 300 MW ou mais);
“- o fechamento de Angra 1 em 2025, com o fim da licença operacional, assim como o fechamento de Angra 2 no mesmo ano, antes do encerramento de sua vida útil, mediante a rescisão de contrato de operação, bem como a decisão de não implementação de Angra 3.”
Como se percebe, são propostas ideologicamente motivadas, que denotam um desconhecimento abissal do funcionamento das estruturas produtivas e infraestruturas associadas de uma sociedade industrializada e urbanizada moderna, e do estágio de desenvolvimento e perspectivas de evolução das tecnologias respectivas, cuja aplicação teria como resultado um virtual retrocesso tecnológico e civilizatório no País, inclusive, em termos ambientais.
Todavia, a Batalha da Margem Equatorial ainda não está vencida, pois a “Máfia Verde” tem um histórico de litigâncias ambientais que sugere cautela, paciência e resiliência, além de disposição para sustentar a luta contra esses inimigos da Nação e do progresso.