Governadores no Muro da Covardia

Publicado em 17 de Agosto de 2025

No tabuleiro da política brasileira, poucas táticas são tão transparentes e, ao mesmo tempo, tão recorrentes quanto a hesitação calculada. Em um momento de profunda polarização e crise institucional, a nação observa com particular atenção à movimentação de uma nova leva de líderes autointitulados de centro-direita, governadores que alimentam a ambição de voos mais altos em 2026. No entanto, sua postura diante dos desafios mais agudos do campo conservador revela uma estratégia de conveniência que pode ser confundida com covardia.

O cenário é claro: esses governadores –Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Junior – sabem que para alcançar seus objetivos precisam do apoio do eleitorado bolsonarista, uma parcela da sociedade que representa uma força política inegável. Eles cortejam essa base, reconhecendo-a como fundamental para qualquer projeto eleitoral futuro. O paradoxo, porém, reside na recusa desses líderes em entrar na trincheira da defesa de Jair Bolsonaro e de sua família, que se intensifica, especialmente no âmbito internacional.

É um jogo duplo que beira o cinismo. Nos bastidores, fala-se que a atuação de figuras como Eduardo Bolsonaro é vista com constrangimento e considerada “equivocada”. Mas, publicamente, a posição é de total omissão. Não é acidental, é o reflexo de um cálculo frio. Eles buscam descolar a imagem de sua liderança para o tal “centro democrático”, mas sem perder a fonte de votos daquele que, mesmo preso e incomunicável, arrasta multidões. Querem o apoio de Bolsonaro sem o ônus, a vitória sem o combate.

A tática é arriscada. Uma liderança que se cala em um momento como esse é capaz de demonstrar a coragem necessária para tomar decisões difíceis? A covardia se manifesta de forma ainda mais clara quando a crítica seletiva é direcionada a adversários que já se encontram enfraquecidos. A artilharia é direcionada a Lula, o que é fácil e rende likes, enquanto se faz vistas grossas para os que detêm o poder real e abusam dele.

A verdade é que a covardia, quando adotada como estratégia, é um buraco negro que engole qualquer aspiração de grandeza. Esses líderes parecem estar parados no tempo, esperando que a vitória caia em seu colo por inércia ou pela simples ausência do nome Bolsonaro nas urnas. Eles se equilibram precariamente em cima do muro, acreditando que a neutralidade política pode ser um ativo.

No final das contas, o que diferencia um líder de um mero político é a coragem de assumir riscos e defender suas convicções, mesmo que isso custe popularidade no curto prazo. No jogo político, a vaidade é um motor poderoso, mas a covardia é uma trava que, uma vez acionada, pode ser irreversível. No Brasil de hoje, não há mais espaço para quem está em cima do muro. E, como dizem por aí, o medo de perder tira a vontade de ganhar. 

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