
Publicado em 06 de Novembro de 2025
Ciro Nogueira soltou a frase “NOSSO camisa 10 voltou!” em seu perfil no X, gerando dúvidas sobre quem seria o tal “camisa 10”. Neymar não foi convocado, Jair Bolsonaro está preso, Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos e Flávio Bolsonaro não fez movimentos políticos relevantes. Assim, uma opção plausível seria o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
No dia da publicação da frase de Ciro Nogueira, Tarcísio foi o único que registrou movimentos políticos concretos, conforme noticiado por Daniela Lima: contratou equipe de campanha e vem sendo abastecido com temas, posicionamentos e estratégias, inclusive por pesquisas contratadas pelo partido de Ciro. Isso reforça a interpretação de que o “camisa 10” era ele. Para tentar apagar o fogo que ele mesmo acendeu, Ciro recorreu a uma entrevista à revista Veja para dizer que se referia a Lula. Se fosse isso, poderia ter afirmado de forma clara desde o início, mas preferiu o mistério, o que pode ser visto como uma tentativa de ganhar atenção sem assumir compromissos reais.
No seu estado, o Piauí, Ciro aparece em terceiro lugar na disputa para o Senado, atrás dos principais concorrentes, o que torna sua reeleição uma tarefa complicada. Sua última cartada é se valer da recém-criada federação União Brasil/PP — a União Progressista — para garantir a vaga de vice na chapa presidencial de Tarcísio. Embora Tarcísio negue publicamente a candidatura, ele conta com Ciro como seu principal cabo eleitoral, revelando uma aliança pragmática que prioriza a sobrevivência.
Quanto a Tarcísio, a polêmica não é menor. No 7 de setembro, em discurso na Avenida Paulista, ele, pela pressão do público presente, chamou o ministro Alexandre de Moraes de “tirano” e criticou duramente a atuação do STF, mas o contexto mostrava um claro constrangimento – o que se provou uma crítica mais oportunista do que convicta. Pouco tempo depois, o próprio Tarcísio pediu desculpas publicamente a Moraes, deixando claro que o ataque feito em cima do caminhão foi apenas uma estratégia para aproveitar o momento, não um posicionamento firme.
Além disso, ambos, Tarcísio e Ciro, não fizeram muita força pela anistia, o que causa estranheza em se tratando do ex-chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro e do governador do estado mais importante do país, eleito com a bênção do ex-presidente. Em vez de utilizarem seu peso político pela anistia aos presos políticos do 8 de janeiro, mostraram simpatia pela dosimetria das penas, aceitando que Bolsonaro e seus seguidores continuem presos e perseguidos, o que passa à militância uma falta de coragem para enfrentar o sistema e defender princípios contra o ativismo judicial.
Mas essa covardia política e o jogo nas sombras não enganam a base. Oscilar entre ataques circunstanciais e recuos oportunistas, buscando enganar o eleitor conservador em vez de oferecer liderança firme, transparente e convicta; longe de aproximá-los da base, os distancia irremediavelmente. O bolsonarismo e a verdadeira direita não aceitam políticos que se escondem atrás de frases ambíguas, manobras midiáticas, pedidos de desculpas convenientes ou cálculos políticos.
Enquanto Ciro articula para garantir seus interesses pessoais e Tarcísio se esquiva conforme a conveniência, o eleitor bolsonarista percebe a encenação e o silêncio cúmplice diante da perseguição judicial, o que definitivamente não o representa.