Publicado em 12 de Setembro de 2025
A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal provocou reação imediata nos Estados Unidos. O secretário de Estado Marco Rubio classificou a decisão como perseguição política e afirmou que Washington responderá de forma adequada. Ao usar linguagem dura e oficial, Rubio deixou claro que o episódio já não é visto como uma questão interna brasileira, mas como um problema que compromete a imagem do país no exterior.
Dentro do Brasil, porém, o ambiente econômico segue como se nada tivesse acontecido. Bancos, fundos de investimento, federações empresariais e consultores mantêm o discurso de normalidade, como se a prisão de um ex-presidente apoiado por milhões de eleitores fosse apenas um detalhe jurídico sem relevância maior. Essa postura não traduz confiança, mas indiferença diante de uma crise que já ultrapassou fronteiras.
As declarações de Rubio colocam sobre a mesa riscos concretos: possibilidade de sanções secundárias contra o Brasil e aumento de tarifas já aplicadas sobre exportações. São medidas que já atingiram outros países e que podem incidir diretamente sobre a economia brasileira.
A elite local prefere ignorar os sinais. Economistas e gestores que ocupam diariamente os jornais com análises sobre câmbio e juros se calam diante da instabilidade institucional. Passam a impressão de que os negócios continuam protegidos, como se o país pudesse vender a imagem de segurança a investidores estrangeiros mesmo sob acusações de perseguição política. Essa escolha pelo silêncio não é neutra. É uma aposta no adiamento do problema, que tende a chegar com mais força justamente sobre os setores que hoje fingem não ver o cenário.
Donald Trump também reagiu ao julgamento, chamando-o de vergonhoso e comparando a situação de Bolsonaro à sua própria experiência política. Quando um ex-presidente dos EUA e o atual secretário de Estado falam em perseguição, reduzir o episódio a um debate jurídico interno é ilusório. O debate ultrapassou o campo jurídico e já afeta a reputação internacional do Brasil, além de corroer a confiança de parceiros estratégicos.
O empresariado brasileiro parece acreditar que o mundo não está prestando atenção. Age como se as tarifas já aplicadas pelos EUA fossem apenas uma questão comercial, ignorando que o pano de fundo é político e institucional. Essa fuga da realidade criou uma Tropicália própria da Faria Lima: um espetáculo colorido e bem produzido, onde relatórios falam em estabilidade, reuniões celebram projeções otimistas e as salas envidraçadas seguem blindadas contra qualquer percepção da crise institucional. É uma Tropicália financeira, feita de ilusões, que encobre um país em colapso institucional.
Rubio foi claro ao dizer que os EUA responderão à condenação de Bolsonaro. A frase funciona como aviso. Quanto mais o Brasil insistir em vender uma narrativa de normalidade, maior será o choque quando medidas de peso forem aplicadas. O impacto não ficará restrito ao governo ou ao Supremo. A conta chegará ao sistema financeiro e ao setor produtivo. O silêncio e a acomodação de hoje podem ser lembrados amanhã como cumplicidade com a destruição da credibilidade institucional do país.