Do Jovem Sem Futuro ao Adulto Endividado: Como Quebraram Três Gerações de Brasileiros

Durante décadas, o Brasil alimentou uma promessa silenciosa: a de que cada geração viveria melhor que a anterior. O bisavô chegou ao país sem nada, mas conseguiu comprar um terreno. O avô construiu a casa. O pai ampliou. O filho herdaria. Este ciclo foi rompido. Não por acaso, mas por projeto.

A geração atual — mesmo com mais acesso à informação, mais escolaridade e mais tecnologia — não consegue sequer repetir os feitos mínimos dos seus antepassados. O sonho de uma casa própria virou um financiamento de 30 anos. O carro é alugado ou por assinatura. O celular é parcelado em doze vezes com juros embutidos. E a liberdade financeira virou uma ilusão tão inalcançável quanto uma aposentadoria tranquila.

Enquanto isso, os bancos brasileiros seguem registrando lucros estratosféricos — alguns na casa dos bilhões por trimestre –, mesmo com empresas fechando as portas, famílias endividadas e o país afundado em estagnação. A engrenagem que move essa contradição é o crédito fácil. Empresta-se o que a pessoa ainda não ganhou, cobra-se com juros extorsivos e, se ela não pagar, toma-se o pouco que ela tem. A inadimplência cresce. O endividamento explode. Mas os lucros não param.

Esse ciclo de empobrecimento programado começa cedo. Jovens são estimulados a consumir antes mesmo de gerar renda. O ensino técnico foi sucateado. A universidade foi entulhada de cursos que não geram ocupação. A renda média caiu, mas a necessidade de crédito aumentou. Resultado: uma juventude frustrada, desmotivada e sem horizonte de estabilidade. Muitos sequer entram no mercado de trabalho; outros, ao entrarem, já estão capturados pela lógica do boleto infinito.

A classe média, por sua vez, foi desidratada. O pequeno patrimônio de gerações anteriores virou dívida, imposto e taxa. A poupança desapareceu. A ideia de herança ou acúmulo virou ficção. Os poucos que tentam empreender esbarram em juros impagáveis, burocracia estatal e concorrência internacional desleal. Não há ambiente para o risco produtivo — apenas para a dependência rentista.

O mais perverso neste cenário é que o discurso oficial normalizou essa espiral. Dizem que possuir é antiquado, que o importante é ter acesso. Sustentabilidade virou sinônimo de não ter nada. E quem questiona isso é acusado de ignorar “os novos tempos”. Mas o novo tempo só é novo para quem perdeu tudo — e velho para os que seguem lucrando com a escassez alheia.

Três gerações foram quebradas. A primeira perdeu os bens. A segunda, os sonhos. A terceira, a vontade de continuar. E a próxima? Vai nascer já devendo, com CPF digital e limite de crédito social. O Brasil transformou mobilidade social em roleta russa — e a arma está nas mãos de quem sempre lucrou com a crise.

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