Enquanto analistas ainda discutem o poder militar da China ou a influência geopolítica dos Estados Unidos, um novo vetor de dominação já está em plena operação: a supremacia algorítmica. No centro desse modelo está a Palantir Technologies, empresa fundada com capital da CIA, hoje transformada na interface técnico-operacional do novo Leviatã digital. Seu CEO, Alex Karp, é o arquétipo do tecnocesarismo moderno: filosofa sobre Santo Agostinho, cita Nietzsche, defende abertamente a guerra e despreza qualquer limite moral às suas ambições. Seu produto, o AIP (Artificial Intelligence Platform), já está presente nas Forças Armadas dos EUA, em grandes bancos, seguradoras e até no sistema judiciário. Mas o que está em jogo não é eficiência — é controle.
A proposta da Palantir não é criar tecnologia para resolver problemas. É reconfigurar a definição do que é ou não um problema a ser resolvido. O software passa a ter juízo de valor. Decide. Age. E transforma o cidadão em um dado estatístico inserido em uma lógica de segurança preventiva, onde o “risco” substitui o “direito”. O campo de batalha não é mais físico: é sua conta bancária, seu prontuário médico, seus deslocamentos urbanos. A guerra, nesse novo modelo, é permanente. Invisível. Automatizada.
O AIP já está sendo usado para coordenação de drones, análise de alvos militares, policiamento preditivo, gerenciamento de recursos hospitalares e auditoria de funcionários. A distinção entre uso civil e militar evaporou. A lógica da guerra entrou no cotidiano. O mesmo sistema que identifica um inimigo no Oriente Médio pode hoje definir se você, cidadão comum, representa um “risco reputacional” para seu banco ou seu empregador. A tecnologia deixou de ser uma ferramenta para se tornar um sistema de crenças — uma religião do dado, com dogmas imunes à crítica democrática.
O mais grave é que esse modelo não é imposto pela força. Ele é adotado voluntariamente pelos próprios centros de poder ocidental: bancos, seguradoras, plataformas de mídia e órgãos públicos. Washington ama Karp. O Pentágono o reverencia. Wall Street financia seu crescimento. Ele é o arquiteto da República Tecnocrática: um Estado difuso, sem rosto, sem Constituição, mas com autoridade sobre todas as esferas da vida. E mais, com vocação expansionista.
Enquanto isso, as narrativas sobre “liberdade”, “progresso” e “inovação” seguem sendo usadas como verniz. Mas o núcleo da operação é claro: transformar a eficiência em virtude absoluta e eliminar qualquer limite ético que resista ao avanço da máquina. O modelo que se impõe já não depende da política — é anterior a ela, e sobrevive mesmo em sua ausência. Não há mais necessidade de adesão consciente. Basta continuar conectado.
Nesse contexto, a pergunta já não é “o que a tecnologia pode fazer”, mas “quem a tecnologia autoriza a existir”. E se você não estiver alinhado com os critérios do algoritmo, pode simplesmente deixar de ser funcional. A distopia já não está no horizonte — ela é o protocolo do presente.
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