Cuidado com a reeleição do Lula

O novo mantra do centrão tem sido: “cuidado, a direita radical vai reeleger Lula”. Mas por que, de repente, o centro fisiológico, que se acomoda em todos os governos desde a redemocratização, agora está tão interessado em retirar da presidência um velho conhecido?

O histórico de união, arranjos e rearranjos entre centrão e Lula é longo o suficiente para fazer pensar que algo mudou; os poderes da República já não se comportam da mesma forma.

A verdade é que Lula no comando do Executivo é um dos problemas nacionais, não a causa de todos eles, e sua queda não é garantia de resolução.

E também não foi acesa no centro fisiológico uma chama patriótica que o leva a trabalhar pela solução dos problemas nacionais; é pura e simplesmente oportunismo.

No Brasil, movimentos sociais e políticos precisam necessariamente estar subjugados ao poder burocrático do Estado. A Constituição de 1988 tem um inegável espírito burocrático, colocando a lei como árbitro absoluto e senhor da vida social brasileira. E é aí que reside a expectativa do centro fisiológico de finalmente ocupar a presidência, na burocratização da vida social.

O famigerado centrão soltou a mão de seu velho conhecido Lula porque tem expectativas em relação à domesticação do bolsonarismo; espera instrumentalizar seu potencial eleitoral para fazer um presidente pró-establishment.

O bolsonarismo é um fenômeno eleitoral formidável: elegeu parlamentares com votação recorde e um presidente da República com poucos recursos e sem uma grande legenda.

É esse efeito que os caciques do centro fisiológico buscam replicar em suas candidaturas locais e na presidência: pretendem domesticar o bolsonarismo para manter o verniz democrático da República, que beira o colapso, e capitalizar um grande volume de votos.

Mas esse mesmo cacicado ignora as características políticas do bolsonarismo — desconhece a causa desse volume de votos, mas acredita que pode replicar o efeito eleitoral caso Bolsonaro apoie o candidato do centrão —, justamente porque essa força nasce de uma parcela da população afastada no debate público com a cumplicidade do próprio centrão.

O bolsonarismo é um fenômeno eleitoral porque, na arena política, é a força anti-establishment, a alternativa à burocratização das instituições e da ordem política; é uma tentativa de transformar o povo brasileiro em grandeza política diante dos donos do poder.

O centro fisiológico não compreende a dinâmica social que fundamenta o bolsonarismo e faz de Bolsonaro um líder singular na história recente: a politização da população e seu engajamento em pautas de ordem pública como expressão de sua vontade política.

O bolsonarismo não é domesticável porque não pode ser reduzido a pautas de austeridade fiscal, redução da máquina pública e promessas vazias de prosperidade. Enquanto fenômeno social e movimento político, busca a criação de um espaço para a expressão da vontade política de uma parcela da população silenciada por décadas no debate público.

Explicando os fundamentos políticos do bolsonarismo, fica evidente que pacificar o Brasil não passa por acordos entre burocratas, mas pela anistia dos perseguidos pelo establishment e pelo respeito à vontade dessa parcela silenciada da população.

No fim das contas, o que é um Lula na presidência diante de presos políticos e um corpo institucional sindido?

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