
Se sairmos às ruas e perguntarmos para as pessoas se há uma crise no Brasil, a maioria provavelmente concordará. Há um consenso geral de que o Brasil está em crise.
Definir a crise já é outra história, diagnosticar a causa dela é mais complicado ainda, mas a sensação de que algo não vai bem no país é geral. Uma parte da classe falante talvez arrisque um diagnóstico para essa crise, parte da esquerda dirá que a causa é a desigualdade social, os liberais vão falar sobre excesso de Estado — convenientemente confundindo Estado com burocracia — e assim, sucessivamente, cada setor vai falar sobre sua perspectiva.
Economistas da Unicamp, da FGV e do Banco Central podem citar números, relatórios e gráficos, mas estão longe de ter uma visão holística sobre o Brasil.
Nossos economistas dizem que o problema do Brasil é a economia, mas reduzem-na aos seus fundamentos matemáticos, ignorando a dimensão física e real da matéria. A economia nacional depende da proteção dos seus setores produtivos através de regulamentações, em alguns casos, subsídio, infraestrutura, segurança jurídica e territorial. Todos esses elementos transcendem os números do PIB, os gráficos da B3 e demais elementos que reduzem a economia aos seus fundamentos matemáticos.
Mas esse não é o único problema: nossos economistas, além de matematizar a economia, pensam o país com base em duas variáveis por vez – repetem ad nauseam as duplas clássicas: oferta e demanda, juros e inflação, curva de Phillips. A discussão acadêmica nos últimos 20 anos gira em torno da velocidade ideal para subir ou descer os juros, do prazo ideal dos títulos do Tesouro, e assim por diante, dentro de modelos mentais simplistas.
Foi nessa lógica que Roberto Campos Neto ajudou a eleger Lula. Ao elevar os juros de 2% para 12% em tempo recorde, desorganizou a economia e o setor produtivo no meio de um ciclo eleitoral. E ainda criticam Trump por usar tarifas para equilibrar o dólar.
Diversos aspectos cruciais da economia brasileira não são considerados fatores relevantes nos modelos econômicos. O curto prazo para o pagamento de impostos no Brasil, a tributação do imposto de renda sobre juros nominais desconsiderando a inflação, o risco de crédito do próprio governo federal, ignorado pelos investidores, e a alíquota efetiva que impacta empreendedores em início de carreira não são incluídos nas análises econômicas. Como consequência, o PIB disponível per capita do Brasil caiu pela metade nos últimos 40 anos, um colapso significativo, ignorado pela imprensa especializada que, muitas vezes, desconhece essa métrica.
Quando esses analistas abordam a economia, não focam nos juros, mas na equação clássica de Harrod-Domar, que relaciona capital e produção, também conhecida como a lei de Nicholas Kaldor. Segundo esta teoria, quanto maior o investimento em máquinas e infraestrutura, maior será o PIB, uma abordagem, em essência, simplificada. Não existe medida isolada que possa nos tirar dessa crise. E líderes com visão restrita e reducionista, tendem a agravar ainda mais nossas mazelas. Mais do que nunca, precisamos de uma visão integral sobre o Brasil.