Como Repetir FHC Sem Dizer o Nome: BTG, Estadão e o Candidato Ideal do Sistema

Publicado em 18 de Agosto de 2025

O editorial do Estadão publicado logo após o evento do BTG representou mais do que um simples comentário. Foi um aviso claro, um gesto de alinhamento público; um código compreendido por quem conhece as engrenagens reais do poder no Brasil: quando a mídia, o mercado e a classe dominante se movimentam juntos, não estão apenas avaliando o cenário — estão redesenhando as opções permitidas.

O alvo do editorial não foi o passado, e sim o futuro. A narrativa de moderação, estabilidade e responsabilidade fiscal serviu como moldura para reposicionar uma figura específica no tabuleiro político: Tarcísio de Freitas. Sua participação no evento do BTG, sua fala elogiada, sua presença celebrada — tudo isso foi coreografado para sinalizar que ele pode ocupar o espaço de “candidato confiável” para 2026.

A estratégia é antiga, mas ainda funciona. Nos anos 1990, a mesma engenharia político-midiática foi usada para construir a figura de Fernando Henrique Cardoso como o homem da estabilidade, da modernização, do “fim da inflação”. A moderação virou virtude, a tecnocracia se transformou em salvação e a obediência ao receituário do capital financeiro se disfarçou de política de Estado.

Hoje, o mesmo ritual se repete com novas embalagens. A diferença está apenas na estética. Em vez de um sociólogo com prestígio internacional, temos um ex-militar com vocabulário técnico. Em vez do prestígio acadêmico de Sorbonne, temos a chancela silenciosa do BTG. Em vez de um plano de estabilização com aval do FMI, temos a imposição informal de um tripé macroeconômico transformado em dogma.

O editorial não fala em juros reais. Não menciona a desindustrialização. Não questiona a dependência tecnológica. Não menciona o fato de que o Brasil se tornou exportador de matéria-prima e importador de valor agregado. O que importa, no fundo, é garantir que tudo continue nos eixos estabelecidos. E para isso, Tarcísio é apresentado como ideal: obediente, previsível, disciplinado.

O papel de André Esteves nesse processo não é meramente decorativo – ele atua como operador da engrenagem. Não atua apenas como financiador de campanhas ou estrutura candidaturas — ele valida, comanda, articula. Sua presença no evento, sua relação com Tarcísio e sua capacidade de influenciar Brasília fazem dele hoje o elo entre o que se pensa na Faria Lima e o que se executa nos gabinetes do poder.

O Estadão apenas traduziu esse movimento para o papel. O discurso da responsabilidade, da moderação e da estabilidade serve apenas como fantasia legítima para conter o povo e preservar o capital. E, no limite, para reeditar FHC com farda e sem sobressaltos.

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