Boas lições e “esmolas verdes” da Noruega

Por Lorenzo Carrasco e Geraldo Luís Lino

Publicado em 1º de Novembro de 2025

A Noruega tem uma longa tradição de combinar um bom uso dos seus limitados recursos naturais com altos níveis de educação e qualificação da força de trabalho em prol do desenvolvimento do país, que remonta ao século XIX. A descoberta de petróleo e gás natural no Mar do Norte, no início da década de 1970, representou um poderoso impulso a essa orientação nacional, que transcende as alternâncias políticas.

Em 1972, foi criada a estatal Statoil, com o intuito de assegurar os interesses nacionais sobre a nova riqueza, orientada por uma visão de longo prazo para a maximização dos seus benefícios. Desde 2018 chamada Equinor, o Estado norueguês detém 71% de suas ações, o que lhe faculta a implementação de políticas de Estado sem muita interferência de acionistas privados, proporcionando nada menos que 42% das despesas do governo.

Apesar da mudança de nome ter sido inspirada no então predominante impulso da “descarbonização” da economia mundial, ao qual aderiram outras majors do setor, a Equinor está atualmente reduzindo os seus investimentos em energias “renováveis” – eólica offshore, solar etc. – e tem uma meta de ampliar a sua produção de petróleo e gás natural em 10% até 2030.

Enquanto isso, investe em fontes que realmente significam avanços tecnológicos, como a energia de fusão, para o que apoia o promissor projeto da Consolidated Fusion Systems (CFS), startup norte americana que pretende colocar o seu inovador reator em uso comercial a partir de 2030.

O Brasil, onde opera há 20 anos, é um dos principais destinos dos investimentos da Equinor no exterior.

Os rendimentos dos hidrocarbonetos constituem, também, a principal fonte de recursos do notável fundo soberano da Noruega (SPU-Statens Pensjonsfond Utland), tanto os provenientes da Equinor como das empresas estrangeiras que operam no país, que são taxadas em nada menos que 78% dos seus lucros. 

Criado em 1990 pelo Parlamento, o SPU é administrado pelo Norges Bank Investment Management (NBIM), um braço do Banco Central da Noruega (que, como se percebe, não se ocupa apenas com metas de inflação), e acaba de superar a impressionante marca de US$ 2 trilhões em ativos. Considerado um modelo de gestão e governança, quase todo o seu capital é investido em ações, títulos, bens de raiz e infraestrutura no exterior, em mais de 9 mil empresas de 70 países, principalmente, EUA, Reino Unido, Alemanha, Japão e França. Por lei, o governo não pode utilizar anualmente mais que 3% do seu valor total, privilegiando as áreas de previdência, educação e infraestrutura.

Ao mesmo tempo, Oslo está incentivando empresas estrangeiras a explorar o potencial de hidrocarbonetos do Mar de Barents, enquanto trabalha no mapeamento e regulamentação da exploração mineral na plataforma continental, para avaliar o seu potencial para níquel, cobre e metais de terras raras, entre outros, embora a decisão sobre a concessão de licenças de pesquisa e exploração tenha sido postergada para 2026 ou 2027.

Por outro lado, ao mesmo tempo em que tem se empenhado em maximizar os retornos da exploração de hidrocarbonetos, a Noruega tem sido uma importante promotora ideológica e financeira do ambientalismo internacional, com sua mal disfarçada agenda de restrições ao pleno desenvolvimento de todos os países, em particular, a maioria não integrante do setor industrializado. 

Entre 1983 e 1987, a sua ex-ministra do Meio Ambiente e ex-primeira-ministra, Gro Harlem Brundtland, chefiou a Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como Comissão Brundtland, cujo estudo “Nosso Futuro Comum” (ou Relatório Brundtland) introduziu o conceito de “desenvolvimento sustentável”, que se tornou a pedra angular do movimento ambientalista. Apesar do seu forte apelo, não passa de uma palavra de ordem pseudocientífica para justificar limites políticos à modernização econômica dos países em desenvolvimento.

Da mesma forma, o governo de Oslo é um generoso financiador da agenda da “descarbonização” da economia mundial. Tanto o Ministério do Clima e Meio Ambiente como a Agência Norueguesa para Cooperação e Desenvolvimento (NORAD) têm feito grandes doações a ONGs estrangeiras engajadas na campanha “descarbonizadora”. O mesmo ocorre com a nominalmente privada Rainforest Foundation Norway (RFN), que atua em grande medida como repassadora de fundos públicos.

No Brasil, a Noruega é a maior financiadora do famigerado Fundo Amazônia, hoje, um dos principais meios de “controle ambiental” da exploração econômica da Amazônia Legal, visando mantê-la como uma gigantesca reserva de créditos de carbono e outros instrumentos afins. Desde a sua criação, em 2008, a Noruega já colocou mais de R$ 3,2 bilhões no Fundo; a última “doação”, anunciada no final de 2024, foi de US$ 60 milhões, cerca de R$ 350 milhões ao câmbio da época. Para se avaliar a sua relevância, o valor é equivalente a cerca de 11% do orçamento executado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) no ano.

E, entre os beneficiários brasileiros da RFN, destaca-se o Observatório do Clima, ONG que coordena a insidiosa campanha contra a exploração de hidrocarbonetos na Margem Equatorial Brasileira.

A RFN acaba de recomendar ao governo norueguês que invista no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), recém-anunciado pelo governo brasileiro, com o intuito de consolidar o modelo de conversão do bioma Amazônia em captador de créditos de carbono e outros instrumentos financeiros ditos “sustentáveis”.

O Brasil, que está diante da grande oportunidade de ampliar o seu plantel de recursos naturais, com os hidrocarbonetos (e, possivelmente, recursos minerais) da Amazônia Azul, as terras raras e outros, deveria estudar com afinco as lições positivas do país nórdico. Sem dúvida, muito mais relevantes do que as suas “esmolas verdes”.

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