Aprendizagem Socioemocional – o Método Paulo Freire retrofitado

Por 5º Elemento

12/10/2024

Por Anamaria Camargo

Segundo o ‘Manual de Implementação Escolar – Estratégia de Desenvolvimento Socioemocional’, publicado pelo MEC em 2022, “A BNCC reforça a importância do desenvolvimento socioemocional dos estudantes, propondo como essencial o trabalho para desenvolvimento de competências e habilidades para além das características cognitivas.” Sim, o desenvolvimento de competências socioemocionais está na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e é, portanto, imposta a todas as escolas brasileiras, públicas e privadas. O que, à primeira vista parece algo pedagogicamente bom ou, pelo menos, inofensivo, na verdade representa uma ameaça. Tal como vem sendo proposto e empurrado através de lobbies poderosos, representa a principal estratégia de aliciamento para o Wokismo nas escolas.

Um resumo da história: antes de se formalizar, a Aprendizagem Socioemocional (ASE) era promovida através de intervenções direcionadas a crianças individualmente ou a pequenos grupos de crianças com desafios específicos na sua vida social e emocional, especialmente quando estes impediam ou limitavam sua aprendizagem. Essas crianças eram atendidas de forma direcionada, em ambientes terapêuticos seguros, por psicólogos ou assistentes sociais capacitados. 

O primeiro programa de ASE foi conduzido em 1968 por um psicólogo ativista pelos direitos civis chamado James Comer. Comer desejava entender e modificar a realidade de fracasso educacional das escolas urbanas em Connecticut, cujos alunos eram majoritariamente negros. Era um momento bastante tumultuado nos Estados Unidos, com fortes impactos sociais para as comunidades negras, especialmente após o assassinato Martin Luther King Jr. Nesse cenário, Comer acreditava na necessidade de uma abordagem holística principalmente junto às crianças que vinham de lares desfeitos. Foi nesse cenário portanto, que ele obteve como resultados da sua intervenção, resultados bastante positivos, ainda que localizados. Uma porcentagem significativa da turma de formandos de 1973 de duas das escolas que participaram do seu experimento acabaram indo para a faculdade ou conseguiram bons empregos. 

Outra estratégia de promover a o desenvolvimento dessas competências nas escolas, que ainda existe, consiste em incluir no currículo escolar, conteúdos que relacionam questões socioemocionais à Higiene/Saúde e ao Civismo. Segundo esse modelo, como as competências socioemocionais são trabalhadas por professores – e não por psicólogos – com todo o grupo junto – e não direcionado a crianças específicas –, usa-se de atividades que não sejam psicologicamente invasivas.

Desde então, o grau de sucesso das iniciativas de ASE variou conforme a especificidade de cada contexto, as circunstâncias peculiares de cada escola, a competência e o entusiasmo dos professores e alunos, dentre outros fatores.  Seria metodologicamente arriscado generalizar o sucesso ou o fracasso de cada experimento. Na verdade, diante da ausência de consistência dos resultados dos programas de ASE, seja no desempenho acadêmico, seja no desenvolvimento continuado das próprias competências socioemocionais dos alunos participantes, nada indicava a conveniência de que se esses programas fossem escalados e ampliados no seu escopo. Mas foi exatamente isso que aconteceu.

O projeto de expansão da ASE começou realmente em 1994 quando um grupo de pesquisadores e educadores defensores da Educação Holística se reuniram no Instituto Fetzer, uma organização mística ‘New Age,” e criaram o CASEL (Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning). O CASEL é a organização não-governamental que propôs uma metodologia específica para a ASE que hoje é hegemônica nos Estados Unidos e, lamentavelmente, avança no Brasil. Quanto ao Instituto Fetzer, cuja missão é “Ajudando a construir a base espiritual para um mundo amoroso”, não apenas mantém fortes laços com o CASEL, como patrocina seus eventos. 

Com o CASEL, deixam-se para trás as versões direcionadas, individualizadas e providas por profissionais capacitados para fins terapêuticos ou cívicos. A ASE passa ser sendo considerada como algo que deve estar sempre presente de forma relevante no contexto de qualquer aprendizagem. Para os idealizadores do CASEL, a educação necessária é a que “promove a equidade e a excelência educacional” (CASEL). Como equidade significa a igualdade de resultados promovida compulsoriamente através do nivelamento por baixo, evidentemente, equidade não é compatível com excelência. Não obstante, aparentemente os especialistas em educação não consideram um problema que o CASEL se defina explicitamente através de uma contradição em termos. 

Uma vez tornada sistêmica, a ASE é integrada em todos os aspectos da vida escolar, incluindo as atividades extracurriculares como esportes, grupos de ciência, clubes identitários (conforme a sexualidade dos estudantes, por exemplo), teatro, dentre outros. Formalizou-se também o “consenso” de que as disciplinas tradicionais devam servir como meio para a ASE. Aliás, quem foi mesmo que proferiu a seguinte afirmação?

“os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos passivos.”

Exatamente: Paulo Freire. No seu palavrório pretensamente erudito, o que Paulo Freire chama de “objetos cognoscíveis” são justamente aquilo que pais, mães e a sociedade de modo geral, esperam que sejam ensinados nas escolas – matemática, língua portuguesa, ciências, etc. Para o nosso patrono da educação, no entanto, todo esse conteúdo, que é “possuído pelo professor”, deve servir apenas de meio. Ou seja, deve servir para mediatizar o que ele chama da educação libertadora.

Antes que alguém conclua que só porque Paulo Freire era um guru que profetizava a libertação através da Páscoa dos educadores, e só porque o CASEL foi criado por frequentadores de uma organização mística ‘New Age, voltada para a construção da “base espiritual para um mundo amoroso”, não significa que uma coisa está ligada à outra. Onde está a evidência de qualquer relação entre Paulo Freire e o CASEL?

Em 2015, na Introdução à obra de referência da ASE, o ‘Handbook of Social and Emotional Learning: Research and Practice’, Linda Darling-Hammond, Diretora Emérita do CASEL escreve:

“Como explicou Paulo Freire, a humanização é o processo de tornar-se mais plenamente humano, como pessoas sociais, históricas, pensantes, comunicativas, transformadoras e criativas, que participam no e com o mundo. Os educadores, argumentou ele, devem ouvir os seus alunos e partir dos conhecimentos e experiências deles para engajá-los em… abordagens educativas personalizadas que promovam os objetivos de humanização e transformação (Freire, citado em Salazar, 2013, p. 126). Na verdade, é isso que vemos nas escolas que empreendem com sucesso a jornada para se tornarem social e emocionalmente educativas.” (Linda Darling-Hammond Handbook of Social and Emotional Learning: Research and Practice’, 2015)

Vou traduzir bem resumidamente o que Linda Darling-Hammond diz, ao descrever o que ela chama de sucesso da ASE nas escolas, usando Paulo Freire como referência. Ao falar de “pessoas sociais”, ela quer dizer socialistas; “históricas”, ela se refere ao sujeito histórico conforme a concepção de Marx; “pensantes”, ela quer dizer com consciência Crítica (referente à Teoria Crítica Neomarxista); “comunicativas”, ela quer dizer engajadas na dialogicidade, em oposição à educação “bancária”; “transformadoras”, ela quer dizer Marxistas; e “criativas”, ela quer dizer que se veem como sujeitos da criação; ou seja, como Deus. Ou seja, a abordagem educativa do ponto de vista socioemocional é definida pelo CASEL em termos marxistas, tendo como referência um guru que acreditava que o propósito da educação é “conscientizar” os alunos do seu dever de atuar como ativistas pela revolução marxista. 

Acompanhe: o ‘Método Paulo Freire’ é, na verdade, a organização em etapas de um processo de doutrinação do marxismo crítico. A primeira etapa é justamente a coleta, junto aos alunos, de temas politicamente radicalizadores a ser problematizados na sala de aula – os chamados ‘temas geradores.’ Na ASE, a etapa de data mining desses temas se dá através de constantes “diálogos” entre professor e alunos. Afinal, como afirmou o guru, “não seria possível à educação problematizadora, que rompe com os esquemas verticais característicos da educação bancária, realizar-se como prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os educandos. Como também não lhe seria possível fazê-lo fora do diálogo.” Na ASE, enquetes online também são cada vez mais usadas e, nas sociedades mais ricas, equipamentos ou acessórios com tecnologia de Inteligência Artificial, usados pelos estudantes, aferem e registram reações e emoções relacionadas a determinados temas tratados durante as aulas. Tudo devidamente registrado e guardado para futuras “intervenções socioemocionais”. 

Ou seja, assim como no Método Paulo Freire, os temas geradores da ASE a ser problematizados nas aulas, são definidos a partir das fragilidades sociais/psicológicas/emocionais dos alunos. Em uma segunda fase (que Paulo Freire subdivide em várias, mas vou simplificar aqui), tanto no Método Paulo Freire como na ASE, o professor deve inserir os temas geradores no contexto das disciplinas tradicionais – matemática, leitura/escrita, ciências, ou qualquer outra – e através de manipulação psicológica, aliciá-los para fins políticos/ideológicos. No caso, da ASE, para a seita Woke.

Paulo Freire destacava a essencialidade do engajamento dos educadores e educandos na práxis, instando-os a “denunciar” continuamente o sistema capitalista e os valores “burgueses” (da tradição liberal clássica ocidental), através do ativismo. Conforme os livros sagrados do guru, o ato de “denunciar” anuncia – profetiza – a libertação (comunismo). A metodologia CASEL parte de 5 núcleos de grandes áreas de competências socioemocionais – Autoconhecimento, Autogestão, Consciência Social, Habilidades de Relacionamento e Tomada de Decisão responsável – que representam as mesmas orientações. Ou o que seriam o ‘Autoconhecimento’ e a ‘Autogestão’ se não o processo de aprendizagem e autocontrole para chegar à conscientização estabelecida por Paulo Freire? Trata-se da área de competência chamada de ‘Consciência Social’ no esquema do CASEL. O que seriam as ‘Habilidades de Relacionamento’ se não uma preparação para colocar em prática (práxis) essa conscientização através da ‘Tomada de Decisão responsável’? O que temos aqui é claramente o Método Paulo Freire retrofitado, gourmetizado para atrair a chamada Geração Alfa e iludir pais e mães distraídos.

Por trás do lobby do CASEL, temos a UNESCO, o Fórum Econômico Mundial, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Bill & Melinda Gates Foundation, dentre outras organizações igualmente poderosas. Possivelmente, a prática nas escolas brasileiras ainda não chegou ao nível do que se tem nas escolas americanas, mas sabemos que essa é a intenção dos legisladores e governantes brasileiros porque, como já dissemos, é o que determina a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para todas as escolas brasileiras públicas e privadas. Há também documentos orientadores do MEC, tais como o ‘Manual de Implementação Escolar – Estratégia de Desenvolvimento Socioemocional’ e a ‘Estratégia para desenvolvimento de competências socioemocionais’ baseado explicitamente no CASEL, explicitamente baseados no modelo CASEL. Igualmente empenhadas na difusão da ASE, temos diversas ONGs e fundações privadas, como a Fundação Ayrton Senna, a Fundação Itaú, a Fundação Bradesco, além de um sem-número de empresas vendendo currículos baseados no modelo CASEL. 

Que não se perca de vista: a Aprendizagem Socioemocional nas escolas se tornou o caminho oficial para o aliciamento de crianças e jovens ao Wokismo, tendo Paulo Freire como guru.

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