A Tarifa Como Dissuasão: Trump, Brasil e o Colapso do Vende-Tudo

Durante muito tempo, o Brasil foi convencido de que as tarifas eram um problema do passado — coisa de nacionalismo ultrapassado ou protecionismo burro. Mas basta observar os movimentos recentes da geoeconomia para entender que a tarifa, longe de ser uma ferramenta econômica anacrônica, voltou como um instrumento de dissuasão geopolítica. As tarifas de Trump sobre o Brasil não têm natureza meramente comercial. Elas são um recado estratégico: o Brasil já ultrapassou a linha do risco institucional tolerável.

Não se trata do volume de exportações, da pauta de produtos ou do saldo comercial. Trata-se de algo anterior: a captura de instituições brasileiras por interesses estrangeiros, em especial chineses. O problema não é o produto que exportamos, mas o país que nos tornamos. Um país onde decisões estratégicas são submetidas à aprovação informal de fundações globais, think tanks internacionalistas e grupos de pressão ambiental. Um país onde o sistema judiciário opera seletivamente e onde o Legislativo começa a se alinhar à engenharia regulatória de uma potência estrangeira. Para os Estados Unidos, o Brasil deixou de ser um parceiro instável para se tornar um parceiro comprometido — mas não com os interesses ocidentais.

A tarifa não é sanção, é alerta. E ela foi lançada num momento crucial: o aprofundamento dos acordos financeiros, monetários e políticos com a China. Entre 2023 e 2025, o Brasil assinou dezenas de tratados que integram nossa infraestrutura comercial e bancária à arquitetura regulatória chinesa. O Banco Central e o COAF firmaram memorandos com seus pares chineses. O renminbi digital foi incluído em programas-piloto de liquidação de pagamentos. E tudo isso em paralelo à instalação silenciosa de mecanismos legislativos e jurídicos que favorecem a expansão das empresas chinesas no setor energético, logístico e de commodities.

Trump identificou o que parte do empresariado brasileiro ainda finge não ver: a neutralidade institucional do país já foi rompida. As tarifas são apenas o primeiro mecanismo de resposta. Porque um país que privatiza tudo, mas regula com critérios ambientais alinhados a Davos; que abre seu mercado, mas fecha sua política à divergência; que entrega infraestrutura crítica a empresas estatais estrangeiras, mas criminaliza o debate sobre soberania, não é mais um ator neutro. É uma plataforma de influência, um território-canal.

A esquerda brasileira festeja os acordos com Pequim em nome do “sul global”. Já os liberais fingem que o jogo continua sendo apenas de custo, preço e competitividade. Mas a guerra comercial de hoje já virou guerra de capitais. E a próxima etapa será uma guerra de jurisdições, onde o risco institucional será tratado como risco sistêmico. A tarifa, nesse contexto, é o equivalente a um travão de emergência. Um gesto que diz: “não estamos dispostos a absorver os custos da instabilidade fabricada por vocês”.

O Brasil precisa compreender que as tarifas não foram uma exceção nem um capricho. Foram um sinal. Não apenas da desconfiança americana, mas do colapso silencioso da nossa autonomia institucional. Um país que se orgulha da própria instabilidade — ou que a normaliza em nome de alinhamentos “estratégicos” — não é mais apenas vulnerável. É dispensável.
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