A mídia brasileira faz um esforço hercúleo para pautar o país segundo suas idéias banais. Todo e qualquer fenômeno social, seja aqui ou lá fora, precisa ser reduzido à vulgaridade dos nossos jornalistas, comentaristas, redatores e tutti quanti.

Qualquer um que não tenha compromisso com a banalidade cínica da cafonice ideológica brasileira será perseguido e silenciado — basta não ter uma cara de pastel de forno, sonsa o suficiente para estampar meia página da revista Caras, para tornar-se forte candidato à perseguição.

Em 18 de março de 2025, Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PL de São Paulo, anunciou que se afastaria temporariamente de seu mandato na Câmara dos Deputados. A decisão, formalizada dias depois com um pedido de licença, foi justificada como uma necessidade de permanecer nos Estados Unidos — tanto para evitar uma possível prisão quanto para dedicar-se à busca de sanções contra figuras que considera violadoras de direitos humanos no Brasil.

O afastamento do parlamentar é amparado pelo Regimento Interno da Câmara e pela Constituição: dois dias para tratamento de saúde e 120 dias por interesse particular — totalizando 122 dias sem remuneração. Com isso, Eduardo abriu mão do salário mensal de R$ 46.366,19 e de benefícios como auxílio-moradia e verbas de gabinete. Por ultrapassar o limite de 120 dias para afastamentos sem convocação de suplente, a licença abriu espaço para que José Olímpio — missionário da Igreja Mundial do Poder de Deus e segundo suplente do PL em São Paulo — assumisse temporariamente a vaga.

Não demorou para que nossa classe falante apontasse a licença de Eduardo como fuga, uma tentativa de iludir o eleitorado — uma peça teatral montada para convencer congressistas e jornalistas americanos de que existe, de fato, uma perseguição política contra a família Bolsonaro

A facilidade com que nossa classe falante reduziu a decisão de Eduardo ao mero ímpeto de causar confusão e parecer heróico não foi apenas por aversão ideológica. Foi além. Banalizou a circunstância do parlamentar, apagou o contexto, rebaixou os riscos, ignorou a perseguição da qual ele está sendo alvo

A política se dá no mundo dos adultos, e as ações nesse campo estão sujeitas a consequências reais, pesadas — algo muito diferente do mundinho colorido das redações, onde a coragem se resume a um editorial que não muda a vida de absolutamente ninguém. Eduardo abriu mão de salário, de benefícios diplomáticos e políticos, desmanchou seu gabinete, alterou sua rotina, colocou seu mandato e sua carreira política em risco.

Não se trata de um gesto performático, tampouco de um impulso midiático. Trata-se de um movimento com implicações reais, que afeta o arranjo institucional brasileiro, goste-se ou não dele.

Além de parlamentares como o de Kim Kataguiri, o menino de ouro da Atlas Network, ungido como um dos jovens mais influentes do planeta pela revista Time, que ataca Eduardo porque deseja esvaziar sua liderança para ampliar seu próprio círculo de influência, temos a gritaria infantil da nossa mídia mainstream: reduzem toda a circunstância de uma decisão grave a uma vontade pueril de aparecer. 

De fato, havia um processo em curso para recolher o passaporte do deputado — que foi arquivado apenas após o anúncio da licença —, e não há qualquer garantia clara de que o documento não seria apreendido.

Nenhum jornalista ou comentarista foi capaz de parar, por um único segundo, para considerar se a crise apresentada por Eduardo é real. Será mesmo necessário reduzir uma atitude tão drástica a uma tentativa tola de chamar atenção da “turminha”? Será que a política nacional se resume, como insiste nossa imprensa, a uma eterna disputa de grêmio estudantil? Parece que estamos diante de uma elite falante tão apaixonada pela banalidade, tão absorvida por sua própria irrelevância, que já não consegue mais enxergar nada para além da própria mediocridade.

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