Em um jantar em São Paulo, o destino da anistia parece ter sido selado. Reunidos estavam os representantes do poder – deputados, senadores e homens que atuam nas sombras dos bastidores. Os relatos que passaram a jorrar da imprensa revelam um acordo onde a classe política se autoabsolve e, em troca, sacrifica os patriotas do 8 de Janeiro. O cardápio do banquete não foi exposto pelos colunistas, mas é lógico inferir que, na mesa, estava a cabeça da Justiça e a lealdade a Jair Bolsonaro.
Esse acordo expõe a ‘lógica do feudo’ que já denunciamos antes: a prioridade não é o projeto de nação eleito nas urnas, e que ainda conta com o apoio de metade da população nacional, mas a autopreservação das castas no poder. Paulinho da Força foi escolhido a dedo por ser um ‘interlocutor do STF’, o que mostra que o famoso Grande Acordo Nacional, aquele que foi sussurrado por Romero Jucá nas agruras do Petrolão, está vivo e mais forte do que nunca.
O sofrimento de famílias e a injustiça contra o único líder conservador do país passam pelo moedor do sistema e viram capital político a ser negociado para garantir a governabilidade do sistema. No cálculo do establishment a lealdade do eleitor é um passivo a ser usado e descartado.
Em Roma, os jantares incluíam um momento solene para que se pleiteasse ao cônsul a inclusão de nomes na perseguição que o estado promovia. Em São Paulo, o método foi mais sutil: para manter o acesso dos poderosos ao volante do sistema, a liberdade de centenas de patriotas – e a vida de um líder – foi colocada na mesa como moeda de troca.
A neutralização política de Jair Bolsonaro é a premissa vital deste pacto. O abandono da anistia é a garantia que a nova direita oferece ao sistema: o símbolo da ruptura será mantido isolado. A perseguição contínua contra o ex-presidente não é apenas um ato de vingança; ela se tornou a apólice de seguro que sela a paz entre os novos sócios do poder.
O que foi abandonado neste jantar, além de Bolsonaro, foi o projeto de um Brasil Soberano, a esperança de governar sem os conluios que definem Brasília. Ao se sentarem à mesa com os arquitetos da nossa perseguição, não buscaram um acordo para o Brasil, mas um projeto para eles mesmos dentro do feudo.
Não há mais espaço para ingenuidade. As máscaras caíram. As linhas que separam o projeto de nação da política de conveniência foram definitivamente traçadas.