
Publicado em 07 de Novembro de 2025
Durante mais de uma década, o ESG foi vendido como consciência global. Um modelo de finanças sustentáveis que alegava alinhar lucro e moral, mas que serviu como um dos instrumentos mais eficientes de controle econômico da história recente. Sob o pretexto de salvar o planeta, o sistema impôs travas às economias nacionais, desarticulou cadeias produtivas, drenou investimentos industriais e terceirizou o planejamento estatal para fundos e consultorias que se autoproclamaram guardiões do clima.
O resultado foi a perda silenciosa da soberania produtiva. Países inteiros foram empurrados para a dependência de importações e dívidas verdes, enquanto as potências que ditavam as regras mantiveram suas usinas, refinarias e arsenais operando em plena capacidade. O discurso era universalista, mas a prática foi hierárquica: cabia aos periféricos compensar o carbono que os centrais continuavam a emitir.
Agora até a Europa começa a admitir o erro. O mesmo continente que pregava neutralidade climática corre para lançar o ReArm Europe, dobrar o gasto militar e reabilitar investimentos em armas e energia fóssil, tudo em nome da resiliência energética e da defesa da soberania. A guerra, o gás e a escassez expuseram o óbvio: não existe transição verde possível sem segurança energética, nem sustentabilidade sem poder.
O ESG não desapareceu, apenas trocou de roupa. O mesmo vocabulário que antes servia para justificar cortes e restrições, agora é usado para legitimar rearmamento e industrialização sob novas etiquetas morais. O investimento responsável virou sinônimo de defesa democrática, e o que era considerado antiético há cinco anos passou a ser exaltado como proteção dos valores ocidentais. Quando o discurso ESG começou a ameaçar a própria sobrevivência do sistema, foi reescrito.
O Brasil segue em outra frequência. A Faria Lima continua fiel ao catecismo verde, repetindo mantras sobre transição e carbono como se ainda estivéssemos em 2019. Bancos e gestoras tratam a agenda ESG como sinal de modernidade, sem perceber que o mundo real já mudou de eixo. A Europa corre para reconstruir sua indústria pesada, os Estados Unidos reindustrializam via subsídios e o Leste Asiático investe em autonomia tecnológica. Aqui, seguimos discutindo relatórios de impacto e métricas de governança.
Esse atraso mostra que parte do nosso mercado financeiro ainda acredita que desenvolvimento é sinônimo de compliance e que soberania se mede por certificado. Esquece que não há economia verde que sobreviva em território fraco. O país que depende de licença estrangeira para produzir energia, tecnologia ou armamento jamais será sustentável; será apenas tutelado.
O ESG prometeu salvar o planeta, mas acabou por ajudar a destruir a autonomia dos Estados. Transformou a moral em índice e a dependência em virtude. Hoje, quem acreditou em Davos discute metas de carbono; quem não acreditou, discute poder. Essa diferença separa as nações que fingem participar da nova ordem verde daquelas que decidiram escrever a próxima.