A Brutalização do Brasileiro

A sociedade brasileira vive, há muito tempo e por uma imensidão de motivos, um fenômeno perturbador: a naturalização da violência institucional como espetáculo. O Brasil como um todo assiste a atos que normalmente despertariam indignação com uma indiferença quase burocrática, uma apatia que transcende o cansaço por política e se mostra como o sintoma de uma crise civilizacional muito mais profunda.

Durante o Reino do Terror francês, Robespierre e seus jacobinos denominaram a guilhotina como o instrumento de “purificação nacional” oficial, permitindo que eles executassem cerca de 17 mil pessoas sob o pretexto de defender a república nascente. Essa “purificação” não foi acidental, mas produto de um árduo trabalho de jornalistas, intelectuais e políticos na erosão daquilo que se chama de alteridade: o repertório cultural por onde vemos no adversário político um irmão, um co-cidadão digno, dotado de humanidade assim como nós. Robespierre, Marat, Saint-Just e companhia focaram em pintar seus opositores como ameaças mortais à nação, o que fez a sociedade ficar indiferente ao horror. E isso continuou até o próprio regime desabar.

No Brasil, estamos vendo a tática de anestesiar a mentalidade dos indivíduos acontecer de forma acelerada pelos poderes que sequestraram a república. Gramsci compreendeu que o poder, se quiser durar, precisa ter em seu arsenal, além da coerção estatal, o consenso das massas. E esse consenso se consegue através dos intelectuais, que substituíram pouco a pouco os valores tradicionais na sociedade por uma consciência revolucionária, aniquilando o senso coletivo nacional.

É importante entender que isso não é um fenômeno gerado espontaneamente no país. A cultura política de desumanização do adversário foi, em grande parte, importada dos Estados Unidos por veículos culturais, como ONGs e Fundações, que sequestraram a amígdala do discurso brasileiro a partir dos anos 70. O recente o assassinato do ativista conservador americano Charlie Kirk é a prova trágica de que essa ideologia continua a fazer vítimas onde quer que ela esteja. A forma como o atentado foi executado e, principalmente, a celebração de sua morte por certos grupos, expõe tanto a essência quanto a perenidade dessa ideia macabra. 

O resultado é óbvio: vivemos numa “cegueira revolucionária” eterna, onde a esquerda vê a direita não como uma adversária legítima, mas como uma inimiga. E essa hegemonia cultural é essencial para explicar a apatia da grande parte dos brasileiros diante dos abusos judiciais contra figuras como o ex-presidente Jair Bolsonaro, um homem que está há anos sendo vítima do processo mais irregular que o país já viu, e atualmente sofre com prisão domiciliar, tornozeleira eletrônica, censura prévia etc. Tudo isso imposto por Alexandre de Moraes – vítima, acusador e juiz de um caso que o levou a ser sancionado internacionalmente por violações de direitos humanos.

A brutalização do brasileiro à maldade política reflete como o controle institucional redefiniu a realidade moral do país. A perseguição executada pela Justiça virou uma ferramenta “normal” para “defender a democracia”, mesmo que isso atropele direitos humanos básicos e a verdadeira democracia. 

Assim como na Revolução Francesa, onde a violência se tornou comum em nome da lei, aqui a perseguição política se disfarça de “proteção da democracia”, erodindo a nossa capacidade coletiva de indignação. A habilidade mais básica de uma civilização, a de olhar para um adversário e ainda enxergá-lo como um ser humano, se desfez no meio dessa polarização. E isto, além de ameaçar o equilíbrio político, lesa a própria união do país.

O que o Brasil vive hoje não é apenas mais uma crise política, por pior que seja. O que está em jogo é a destruição da nossa base, dos valores que nos definem como povo. Quando olhamos para a maldade cometida pelo próprio sistema e ficamos indiferentes, é um sinal de que perdemos a capacidade de reagir. E esse é o primeiro sintoma da morte de uma sociedade livre.

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