A mídia nacional habituou-se a utilizar jargões petrificados para rotular seus inimigos políticos. Os “extremistas”, “radicais” e “golpistas” são uma ameaça existencial à república, e seu pecado capital é não se dobrarem às ideias de esquerda ou à grande mídia. Esses rótulos são tão rígidos, retrógrados e desonestos que sequer são usados para atacar os inimigos reais do Brasil. Quem é chamado de extremista? O assaltante que ataca uma parada de ônibus às seis horas da manhã ou quem fala publicamente algo que desagrade aos chefes de redação? Quem pode ser chamado de radical? Um narcoterrorista que executa uma jovem incendiando pneus ao redor de seu corpo ou quem expressa publicamente ser contra o aborto?
A grande mídia não utiliza os termos corretos para descrever a realidade nacional; tenta apenas rotular negativamente seus inimigos sem qualquer intenção de expressar o que realmente está acontecendo. Já não é mais um jogo de narrativas, de articulação silogística e convencimento. A mídia mainstream simplesmente deprecia seus inimigos na esperança de que suas palavras hipnoticamente gerem repulsa na audiência. No entanto, quando noticia roubos, tiroteios e confrontos entre traficantes e policiais, o tratamento é outro: atenua a linguagem para não gerar repulsa, usando termos como “suspeito”, “estudante”, cidadão etc.
A falta de confronto com os inimigos reais da população brasileira e as ameaças à unidade da república brasileira começa na linguagem; não temos termos e conceitos para tratar dos fatos que se passam aqui. O crime organizado que controla faixas territoriais, rotas marítimas e exércitos irregulares (partisans) com poderio bélico superior ao de vários Estados latino-americanos são simplesmente chamados de “facções criminosas”. Ora, o que isso quer dizer? “Facção” deriva do latim factio, que significa “ação de fazer”, “modo de agir” ou “grupo de pessoas”. Esta palavra é formada a partir do verbo facere, que significa “fazer”. Inicialmente, factio referia-se a uma “companhia” ou “grupo” e, posteriormente, passou a designar “partido político” ou “classe de pessoas”. Na antiga Roma, o termo factio era utilizado para identificar as diferentes equipes que competiam nas corridas de bigas no Circo Máximo. Ao fim e ao cabo, “facção” significa um grupo de pessoas que estão de forma mais ou menos articulada, designando uma agremiação. Uma facção criminosa é um conjunto de pessoas que se uniu para cometer crimes. Isso pode designar desde adolescentes roubando laranjas no terreno do vizinho até terroristas que cometem assassinatos e estão à margem de leis nacionais e internacionais. Ou seja, “facção criminosa” é quase um flatus vocis, não diz nada; não há qualquer qualificação nos crimes ou na natureza da associação das chamadas “facções criminosas” do Brasil. Domínio territorial, operações bélicas, tortura, homicídios cruéis para fins de intimidação e coerção social, cobrança de “impostos” sob ameaças de morte e depredação de patrimônio parecem ações de meros agremiados? Enquanto narcoterroristas ameaçam a unidade nacional do Brasil, nossos jornalistas da grande mídia voltam suas potentes armas retóricas contra os “extremistas”, sejam lá quem eles forem.