O plano é não ter um plano?

Publicado em 24 de Novembro de 2025

Com a prisão de Jair Bolsonaro no sábado, a base bolsonarista no Congresso Nacional expôs, mais uma vez, a fragilidade de sua estratégia: alimentar redes sociais, produzir espetáculo e ostentar indignação sem avançar um centímetro na defesa real do ex-presidente e dos presos do 8 de janeiro. O plano parece ser… não ter um plano. 

A reação inicial foi previsível: dezenas de deputados e senadores anunciaram viagens urgentes a Brasília, gravaram vídeos chorosos e declararam “revolta total”. Um deles chegou ao ápice do amadorismo ao pedir sugestões na internet sobre “o que fazer agora”. Se um parlamentar eleito com o discurso de “defensor implacável de Bolsonaro” precisa recorrer ao Twitter para decidir sua conduta, talvez esteja ocupando a cadeira errada.

Só há um plano efetivo desde o início e parece que alguns ainda não entenderam: ANISTIA. 

O que chegou mais próximo foi a obstrução da pauta feita meses atrás, que durou poucas horas e foi vendida como “guerra total” pela anistia. Resultado? O acordo costurado com Hugo Motta desmoronou, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, pediu desculpas publicamente e a vida seguiu normalmente. Derrota varrida para debaixo do tapete com um “foi só um recado”.

Logo em seguida surgiu a “saída honrosa”: um projeto alternativo de anistia mais palatável, pilotado por Michel Temer, Aécio Neves e Paulinho da Força — exatamente os nomes que o bolsonarismo passou anos apontando como “velha política”. Grande parte da bancada engoliu sem chiar. A mensagem foi cristalina: quando a pressão aperta, o discurso evapora e o pragmatismo fisiológico prevalece.

Quando viram que não iria colar, surgiram mais algumas promessas repetidas: “a anistia será voltada nas próximas semanas”.  Não aconteceu.

Hoje, o que resta é um teatro caro: passagens aéreas de última hora custeadas pelo dinheiro público para tirar selfie ao lado do presídio e postar “estou aqui pelo Jair”. Solidariedade de Instagram, paga com o seu imposto.

E o governador de São Paulo, que sonha em herdar o espólio bolsonarista em 2026? Demorou quase um dia para soltar uma nota morna, cheia de cautelas jurídicas e frases feitas, sem tocar na prisão arbitrária em um inquérito que Jair sequer foi denunciado. Lembrou-se, talvez, de quando subiu no caminhão de som na Paulista, gritou contra o STF e, dias depois, correu para pedir perdão. Lição aprendida: criticar o Supremo dá voto, mas só até onde não incomoda de verdade a própria carreira. E o mais curioso: perfis alinhados ao Governador correram para espalhar um vídeo de meses atrás, preocupados com as críticas das redes sociais sobre o silêncio de Tarcísio, que estava passando um fim de semana tranquilo nas montanhas. 

Se a base tivesse levado a sério a defesa de Bolsonaro e de todos os presos políticos do 8 de janeiro desde o início — articulação cerrada, pressão real, ameaça concreta de ruptura com o Centrão, construção de maioria para a anistia —, talvez o cenário fosse outro. 

O que se vê não é preocupação genuína, mas cálculo eleitoral frio. Na prática, repetem-se os mesmos erros: falta de plano, ausência de unidade, medo de romper com o fisiologismo.

Quem acompanha política minimamente já percebeu: a maioria desses parlamentares está muito mais preocupada com 2026 do que com o que acontece hoje, e tem medo de chamar as coisas pelo nome correto para não magoar quem desestabilizou o país.  O resto é marketing. Caro, ineficaz e pago por quem não aguenta mais discursos e vídeos em redes sociais que não resolvem nada.

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