A prisão de Bolsonaro - O pacto de hipocrisia e omissão

Publicado em 22 de Novembro de 2025

A prisão preventiva de Jair Bolsonaro revela uma face preocupante da justiça brasileira, marcada por uma fundamentação jurídica frágil e um evidente desrespeito à inteligência pública.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes justifica-se pela necessidade de preservar a ordem pública e evitar o risco de fuga, baseando-se em argumentos questionáveis como a suposta violação da tornozeleira eletrônica e a convocação de uma vigília por seus apoiadores. Contudo, uma símples análise mostra que essas razões não se sustentam. Afinal, como alguém com graves problemas de saúde, vigiado incessantemente pela Polícia Federal em um condomínio fechado, poderia efetivamente fugir? Esta pergunta desmonta o principal fundamento da prisão.

A prisão domiciliar anterior, já apontada como ilegal por muitos analistas e juristas, criou um precedente perigoso, especialmente porque Bolsonaro sequer foi denunciado formalmente no inquérito que motivou sua detenção. Agora, com essa nova ordem de prisão preventiva, insiste-se numa narrativa que não resiste a uma avaliação lógica ou factual. A alegada “violação” da tornozeleira nunca foi esclarecida adequadamente — podendo ser uma falha técnica ou sequer ter ocorrido — o que fragiliza ainda mais a alegação de risco às investigações ou à aplicação da pena.

O que se percebe é clara a utilização da Justiça como ferramenta política, que ultrapassa os limites do ato legal para invadir espaços de perseguição e constrangimento, ignorando garantias básicas do Estado de Direito.

Assim, está em jogo a integridade do sistema democrático e sua capacidade de resistir ao arbítrio mascarado de legalidade. Para quem controla o sistema, entretanto, esses parecem meros detalhes dispensáveis.

Escancara-se também o silêncio e a omissão daqueles que afirmam lutar pela liberdade, mas preferem se acomodar, tornando-se cúmplices da degradação democrática. A mídia tradicional, com sua seletividade e parcialidade, contribui para confundir e manipular a opinião pública, negligenciando as claras violações institucionais.

No amplo espectro social, muitos fingem resistência somente quando lhes convém, aceitando passivamente a politização da Justiça na medida em que isso não lhes traz prejuízo. Essa postura enfraquece a democracia e favorece o avanço do autoritarismo.

Entre os omissos encontram-se também presidentes de partidos que se calam para salvaguardar interesses próprios, políticos que utilizam o nome e a credibilidade de Bolsonaro para benefícios pessoais — limitando-se a discursos vazios e promessas de anistia que nunca são concretizadas — e o mercado financeiro, que persiste em seu silêncio cúmplice, fingindo normalidade ante a instabilidade institucional.

Ignorar os sinais ou reproduzir combates seletivos não é apenas conivência, é hipocrisia política que ameaça as bases do Estado de Direito.

Defender a liberdade exige mais do que palavras vazias; requer ações concretas e um compromisso inabalável.

Se esse pacto de omissão e hipocrisia continuar, a prisão de Jair Messias Bolsonaro será apenas mais um episódio de um espetáculo jurídico-político que destrói princípios fundamentais e conduz o Brasil a uma espiral de instabilidade. Essa aliança tácita afronta o dispositivo constitucional que garante a todos igualdade perante a lei e ameaça o próprio coração do Estado Democrático de Direito.

E, como diz a máxima, pau que bate em Chico, também bate em Francisco. Hoje é Bolsonaro, amanhã poderá ser quem se calou agora. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *