Por que o BNDES não financia a energia nuclear?

por: Lorenzo Carrasco e Geraldo Luís Lino

Publicado em 12 de Novembro de 2025

Na Cúpula dos Líderes da COP30, ocorrida em 6 e 7 de novembro, em Belém (PA), o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, jactou-se de que o banco já mobilizou R$ 7 bilhões desde 2023 para projetos de conservação, recuperação e manejo de florestas no Brasil. Segundo ele, o maior investimento do banco no setor florestal, combinando recursos reembolsáveis e não reembolsáveis.

“O restauro florestal é uma solução baseada na natureza, uma tecnologia que a humanidade já domina e que se mostrou extremamente eficiente para capturar carbono. Mas vai além disso: é uma forma de recompor a biodiversidade, gerar emprego e renda e reconstruir a vida das comunidades locais a partir da floresta”, afirmou.

Nada contra o restauro florestal, se inserido em uma política de desenvolvimento abrangente que o combine com o desenvolvimento de atividades produtivas que possibilitem o aproveitamento pleno dos recursos naturais da Amazônia Legal, e não apenas com a motivação mais que equivocada de “capturar carbono”. Mas é difícil não pensar que os recursos do BNDES poderiam e deveriam ser alocados em áreas mais consentâneas com o imperativo de otimizar as atividades produtivas e a reversão da “reprimarização” da economia brasileira, inclusive, com tecnologias de ponta, de modo a provocar um efeito de disseminação de complexidade e multiplicação de valor, sem o qual será impossível retirar o Brasil da chamada “armadilha da renda média”. 

Um exemplo é a energia nuclear, estagnada há décadas por conta da miopia estratégica das lideranças políticas em sucessivos governos. O impasse em torno da conclusão da usina Angra 3, que se arrasta há décadas, é um caso emblemático. A virtual insolvência da Eletronuclear é outro. Idem para o projeto do Reator Multipropósito Brasileiro, crucial para assegurar a autossuficiência em radioisótopos para usos médicos e outros, aguardando há década e meia uma decisão que o tire do papel. Sem falar no Laboratório de Fusão Nuclear (LFN), projeto da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) que data de 2013, igualmente bloqueado pela falta de vontade política e recursos. 

Um orçamento atualizado pela CNEN em 2021 estabelece o custo do projeto da seguinte maneira: R$ 150 milhões para a construção do LFN; R$ 50 milhões para a modernização dos reatores de pesquisa (tokamak) existentes em universidades e centros de pesquisa nacionais; e US$ 100 milhões ao longo de nove anos, para o desenvolvimento e construção de um protótipo de reator de fusão. Valores que representam pouco mais de 10% do destinado pelo BNDES no restauro florestal e muito inferiores aos investidos na área por petroleiras como a ENI, Equinor e Chevron, e pelo recém-convertido ao realismo climático Bill Gates. Com recursos combinados do BNDES e, tentativamente, da Petrobras (que acaba de anunciar o pagamento de R$ 12 bilhões de dividendos no trimestre, no que desde 2016 parece constituir-se a sua meta principal), seria possível dar partida a um projeto de relevância vital para o País.

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