Parece que Brasília toda está mobilizada em torno de uma descoberta recente do sistema. O que descobriram foi uma verdade dura: eles fizeram de tudo para neutralizar Bolsonaro, mas continuam incapazes de tocar no seu capital político. A lawfare foi eficaz contra o homem, mas fracassou contra o fenômeno eleitoral e ideológico que ele é.
Quando o establishment diz que não quer repetir o “erro de Lula com Haddad”, deixa isso claro: o capital de um movimento autêntico não se transfere por consenso de caciques. Os votos não obedecem às planilhas, eles respondem a algo que o establishment não compreende e não pode replicar: autenticidade. A pressão para que Jair Bolsonaro “enquadre” Eduardo e oficialize Tarcísio como candidato é um movimento de pânico, já que o sistema aprendeu que esperar demais pode ser um golpe mortal no mundo pós redes sociais. E é aí que o “projeto Tarcísio” encontra seu calcanhar de aquiles.
Tarcísio não carrega as marcas da perseguição da direita, não passou anos sendo tratado como pária pelo establishment que o corteja agora; é um “bolsonarista moderado”, um oxímoro político. Sua moderação é a prova de que foi domesticado pelo sistema antes mesmo de assumir o poder. O Centrão o quer exatamente porque ele é negociável. Querem os votos do bolsonarismo sem o inconveniente de lidar com os bolsonaristas.
A campanha para deslegitimar Eduardo, orquestrada tanto à direita quanto ao centro, e amplificada pela imprensa, revela que ele passou a representar aquilo que o establishment mais teme: um político com capital eleitoral próprio e que se recusa a jogar segundo as mofadas regras do sistema.
Quando se insinua que os interesses de Eduardo são escusos nós estamos diante da velha tática leninista que frisamos com frequência: acuse-os do que você é. Os verdadeiros canalhas projetam seus pensamentos mais obscuros naqueles que ameaçam os seus planos. Eduardo permaneceu firme na defesa da anistia ampla, geral e irrestrita enquanto outros transformaram a pauta em moeda de troca, e dói ao establishment que alguém tão representativo se recuse a aceitar que a oposição possa ser domesticada para ser tolerada.
O sistema entendeu – melhor que muitos à direita aliás – o que isso significa: um Eduardo Bolsonaro com poder institucional, capaz de articular resistência organizada dentro do Congresso, é infinitamente mais perigoso para o establishment do que um Jair Bolsonaro isolado em Brasília. Daí a urgência em neutralizá-lo antes que ele consolide sua posição. Sua candidatura à liderança da minoria, barrada com argumentos nunca aplicados a outros, representa a tentativa de dar voz a quem não aceita o atual pacto macabro dos três poderes.
O que assusta o Centrão não é perder eleições. Eles já sobreviveram a derrotas antes e sobreviverão a outras mais. O que os aterroriza é a possibilidade de um movimento político que genuinamente não precise deles, que não dependa de seus mecanismos de cooptação, que recuse os termos do jogo que eles criaram.
É por isso que a pressão sobre a família Bolsonaro para aceitar Tarcísio e marginalizar Eduardo é uma lógica de cárcere. O sistema oferece a transformação do bolsonarismo em mais um instrumento do sistema que sempre combateram em troca da liberdade, e em último caso, até da vida, do patriarca de uma família.
Eduardo, ao resistir a essa cooptação, mantém viva a possibilidade de que o bolsonarismo seja mais que um episódio na história política brasileira. Permite que seja, de fato, o início da transformação estrutural que o país precisa para sobreviver.