A B3 entrou no seu período mais fraco de liquidez em seis anos. Em setembro, a média diária ficou em torno de *R$ 14,7 bilhões; não faz muito tempo, esse número rondava **R$ 33 bilhões. É quase a metade. Em termos simples: **o mercado pode estar movimentando menos dinheiro porque há menos disposição em carregar risco no Brasil*.
As leituras de praxe apontam juros altos e contas públicas desarrumadas. Isso pode explicar parte da retração, mas dificilmente fecha a conta. Se fosse apenas custo financeiro, a virada do ciclo resolveria parte do estrago. O movimento que se observa pode ter outra natureza: *quebra de confiança*. Quando quem decide percebe que as regras oscilam, a reação tende a ser reduzir exposição e procurar um lugar onde a palavra empenhada vale mais do que o humor do dia.
Esse recuo aparece em diferentes frentes. Investidores locais retiraram recursos de fundos, gestores institucionais diminuíram posição e estrangeiros passaram a calibrar a presença com mais cautela. O resultado é um pregão raso, em que *poucos papéis concentram a maior parte das ordens. O índice pode até avançar, mas **o dinheiro que circula é menor*. Preço sobe, mas a profundidade pode não acompanhar.
Confiança é o que destrava capital. Sem previsibilidade, o risco econômico tende a se confundir com risco jurídico. O investidor aceita volatilidade; o que ele não aceita é *incerteza sobre a regra. Se a decisão relevante pode ser revertida a qualquer momento, planilha nenhuma dá conta. A saída racional passa a ser cortar posição, encurtar prazos e **movimentar menos dinheiro* no país.
Há ainda a camada reputacional. Gestores globais monitoram liberdade de informação, regularidade do devido processo e estabilidade regulatória. *Basta dúvida* para o comitê de compliance travar ordens. E episódios recentes podem reforçar essa leitura externa, *como o caso de autoridade do topo do Judiciário alvo de sanções pessoais no exterior por violações de direitos humanos*. Esse tipo de episódio pesa na análise de risco e entra nos critérios de quem precisa proteger marca e cotistas.
Com liquidez baixa, o mercado pode ficar mais sujeito a distorções. Um player grande entrando ou saindo pode mexer no preço com facilidade. A formação de valor tende a refletir *menos opiniões e menos dinheiro em circulação*. Para empresas, isso pode significar uma janela de captação mais estreita: menos apetite para ofertas, menos disposição para alongar passivos, menos investidores dispostos a ancorar operações relevantes. É um círculo que pode se retroalimentar.
A “explicação fiscal” serve para a entrevista, mas não basta para a decisão de alocação. O que *trava* não é só o rombo das contas públicas, é o ambiente institucional instável. Enquanto permanecer a sensação de que interpretações jurídicas variam conforme o momento e de que o aparato político interfere sem freios claros, o país *poderá movimentar menos dinheiro* em bolsa. E, sem dinheiro fluindo, dificilmente haverá sustentação sólida nos preços.
Liquidez é o coração do mercado. *É o volume de dinheiro que de fato muda de mãos*. Quando esse volume encolhe, a mensagem pode ser objetiva: o investidor está se protegendo, reduzindo exposição e testando alternativas fora do Brasil. O índice pode marcar novas máximas, mas isso não corrige a origem do problema. O número que interessa — o dinheiro que circula — continua menor.
A recuperação dependerá de algo simples e verificável: *estabilidade de regras, respeito a procedimentos e previsibilidade. Sem isso, qualquer melhora pontual pode virar suspiro. Com isso, o capital pode voltar, porque consegue precificar risco econômico sem tropeçar no **risco institucional. Até lá, a B3 poderá seguir **movimentando menos dinheiro*, e esse tende a ser o dado que traduz o estado real do mercado brasileiro.