Ostentação à custa dos aposentados

Quando a Polícia Federal apreende um carro de Fórmula 1, uma Ferrari, motos de alta cilindrada e garrafas de bebidas caríssimas em uma mansão, o Brasil deveria parar para se perguntar: de onde veio todo esse luxo? A resposta, no contexto da Operação Cambota, é chocante e revoltante: veio dos benefícios de milhares de aposentados. Essa apreensão, além de um retrato brutal de uma teia que transforma o suor e a esperança de quem trabalhou a vida inteira em ostentação, é a prova física de uma podridão que corroeu as fundações de um sistema que deveria ser de amparo, não de exploração.

A revelação dos bens do empresário Fernando Cavalcanti, em meio às investigações, serviu para dar uma face tangível ao escândalo do INSS. Enquanto a atenção nacional se dispersava com o julgamento de Bolsonaro, a CPMI do INSS avançava com uma determinação que poucas vezes se viu, aprovando quebras de sigilo que prometem expor a totalidade do esquema. No centro da trama, o suposto operador Antônio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”, é o elo entre associações fraudulentas e servidores corruptos. Se os investigadores já encontraram esse nível de opulência na ponta do esquema, o que será revelado nos sigilos bancários e documentos de quem está no centro?

O que torna esse escândalo ainda mais perturbador é a ligação direta de uma das entidades investigadas, o Sindicato Nacional dos Aposentados da Força Sindical (Sindnapi), com as altas esferas do poder. A presença de Frei Chico, irmão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como vice-presidente da entidade, não é um detalhe irrelevante. É um fato incômodo e inescapável. A tentativa anterior da Advocacia-Geral da União (AGU) de blindar esse mesmo sindicato, mesmo sabendo que era uma das associações que mais crescia com descontos irregulares nas aposentadorias, levanta sérias suspeitas e sugere uma tentativa de acobertamento político. Felizmente, essa manobra foi frustrada pela CPMI, que aprovou a quebra do sigilo da entidade. A blindagem da AGU fracassou, mas a tentativa por si só já demonstra a existência de laços que, para a sociedade, são inaceitáveis.

Nesse cenário, a corrupção representa uma ferida aberta na vida de milhares de aposentados, que viram seus benefícios minguarem por descontos ilegais e vergonhosos, muito além de um simples desvio abstrato de dinheiro público. É a corrosão da dignidade, da segurança e da confiança em um sistema previdenciário que deveria zelar pelo bem-estar do contribuinte. Não há como aceitar que um esquema bilionário de enriquecimento ilícito seja financiado com a miséria e a incerteza de quem já contribuiu tanto para o país.

A Justiça precisa ser implacável e independente, livre de pressões políticas ou familiares. É fundamental que as investigações sigam a trilha do dinheiro até a ponta e revelem como o fluxo financeiro passa por bancos e outras instituições. Quem lucrou com esse esquema? Quem facilitou a lavagem desses recursos? É hora de expor toda a trama e garantir que cada centavo roubado seja cobrado, e cada responsável, punido, independentemente de quem quer que seja.

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