Publicado em 09 de Setembro de 2025
O Brasil tornou-se especialista em acumular decisões provisórias. Cada governo, cada instituição, cada legislatura anuncia promessas que soam relevantes, mas que desaparecem no ciclo seguinte. São resoluções que lembram Post-its colados na parede: chamativos, fáceis de anunciar, frágeis na prática. Não há continuidade, apenas sobreposição de compromissos que se dissolvem com a mudança de vento político.
O espaço público é consumido por disputas judiciais, narrativas fabricadas e debates que capturam a atenção nacional, mas que pouco acrescentam à construção de um rumo claro. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro mostra o quanto o sistema prefere alimentar espetáculos que dividem o país em vez de discutir prioridades de Estado. Não se trata de irrelevância, pelo contrário: é um evento grave, que atinge o centro da política brasileira. O ponto é que a cena institucional se organiza para prolongar o desgaste e, com isso, paralisa qualquer tentativa de planejamento consistente.
Enquanto isso, setores decisivos seguem sem direção. A indústria nacional convive com relatórios que prometem reindustrialização, mas que nunca são implementados. A área de energia permanece num limbo, com discursos sobre transição e sustentabilidade sem planos concretos de soberania. A defesa acumula protocolos e termos de cooperação que raramente se convertem em capacidade real. A cada ciclo, renova-se o ritual de anunciar diagnósticos conhecidos, sem avançar para soluções práticas.
Tal padrão cria uma espécie de amnésia permanente. Um governo ignora o que o anterior iniciou, instituições disputam protagonismo sem coordenar esforços e o Congresso prefere atuar conforme a pressão do momento. O resultado é a multiplicação de iniciativas inacabadas. No lugar de uma estratégia duradoura, colecionamos lembretes que se perdem no tempo.
O custo desse improviso raramente aparece de forma explícita, mas é profundo. O país perde oportunidades de reposicionar sua economia, de fortalecer cadeias produtivas, de modernizar infraestrutura e de ampliar sua influência internacional. Enquanto outras nações constroem consensos de longo prazo, o Brasil se contenta em reagir ao noticiário do dia.
A cada escândalo, julgamento ou denúncia, renova-se o ciclo de atenção desviada. O que poderia ser usado para estruturar políticas industriais, tecnológicas e de defesa nacional transforma-se em combustível para disputas de curto prazo. O mais grave é que, ao normalizar esse comportamento, a sociedade passa a aceitar que a política seja feita de improvisos. O Post-it substitui o projeto.
Não é a ausência de ideias que paralisa o Brasil, mas a incapacidade de sustentar compromissos por tempo suficiente para transformá-los em realidade. O excesso de improvisação corrói a credibilidade das instituições, afasta investidores e reforça a sensação de que o país vive sempre em suspenso. Entre a promessa e a execução, há sempre um hiato que nunca se fecha.
O Brasil precisa romper esse ciclo de anotações provisórias. Não basta multiplicar relatórios, reuniões e discursos que parecem consistentes apenas no momento da divulgação. A diferença entre um país que avança e um que permanece no lugar está na capacidade de transformar compromissos em políticas estáveis. Enquanto continuarmos presos ao improviso, as paredes seguirão cobertas de Post-its esquecidos, e a realidade seguirá intocada.