Soberania de Quem? A Guerra Monetária e o Efeito Trump na Nova Ordem Financeira Digital

Publicado em 17 de Agosto de 2025

Em apenas sete meses, o governo Trump promoveu uma inflexão silenciosa, mas estratégica, na disputa monetária global: substituiu a narrativa estatal de controle digital por uma estrutura de liberdade financeira baseada em stablecoins privadas reguladas. Enquanto os bancos centrais do mundo tentavam, sem sucesso, emplacar suas moedas digitais como instrumentos de vigilância e rastreamento, os EUA aprovaram a Lei Genius, abrindo caminho para a expansão regulada e legítima de criptoativos lastreados em dólar — como a USDC.

A jogada é mais profunda do que parece. Ao invés de criar um “dólar digital estatal”, Trump reconheceu o fracasso das moedas digitais emitidas por governos e reposicionou os EUA como centro de liquidação financeira livre, descentralizado e com base em mercado — não em coerção institucional. Os EUA transformaram as stablecoins em braço estendido da soberania americana, agora operando em 180 países, com 500 milhões de usuários e mais de 20 trilhões de dólares em volume histórico de transações.

A liberdade passou a ser o argumento competitivo do dólar. O sistema bancário tradicional continua existindo, mas, ao lado dele, se ergue um ecossistema que oferece mobilidade de capital, liquidez, interoperabilidade e privacidade. É a resposta liberal-conservadora à tentativa tecnocrática de controle absoluto da vida financeira dos cidadãos — um controle que, no Brasil, foi tentado com o DREX e seus discursos sobre rastreabilidade, anticrime e inclusão.

No momento em que o real perde relevância, o Banco Central se cala sobre seu projeto digital, e o Judiciário brasileiro avança em bloqueios financeiros com base em decisões monocráticas, a estrutura americana avança oferecendo o oposto: estabilidade jurídica, liquidez e proteção contra arbitrariedades. Os EUA não estão apenas dominando o sistema de pagamentos digitais — estão moldando os termos do que significa soberania no século XXI.

E é nesse ponto que o Brasil se desorganiza. A Faria Lima agora tenta capturar o discurso de soberania — mas com que legitimidade? Aqueles que defenderam abertamente o DREX, a rastreabilidade total, os bloqueios preventivos, agora falam em “proteger o sistema financeiro nacional” frente às sanções internacionais. Mas são justamente essas estruturas que cederam a soberania monetária aos bancos, aos fundos e às instituições estrangeiras, e que hoje veem no sistema de stablecoins uma ameaça não porque ele mina o país, mas porque escapa ao seu controle.

Ao oferecer uma alternativa digital baseada na liberdade de escolha e na competição entre emissores regulados, Trump desarmou dois projetos ao mesmo tempo: o yuan digital, centralizado e controlado por Pequim, e as moedas estatais de viés tecnocrático do Ocidente. A nova soberania não será definida pela força do Estado sobre o indivíduo, mas pela capacidade de oferecer proteção, previsibilidade e mobilidade ao cidadão diante de governos abusivos.

Enquanto o Brasil se perde entre discursos sobre hegemonia americana e submissão geopolítica à China, a realidade é outra: o que define a moeda do futuro não é ideologia, é usabilidade, confiança e liberdade. E o único país que compreendeu isso foi aquele que abandonou o fetiche da CBDC e apostou na criatividade do mercado.

Para entender como os EUA redesenharam a guerra monetária global e por que o Brasil está perdendo tempo defendendo uma soberania que já foi entregue, assista ao episódio completo do programa Geoeconomia publicado em 8 de agosto no canal do 5º Elemento: https://www.youtube.com/watch?v=z_u3Ln8BdEo

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